Artigo: O desejo de morte de um parlamentar e o silêncio que fere a democracia

Foto: Reprodução/ X

Como cidadão brasileiro e cristão católico, não posso me calar diante de uma declaração que rompe os limites da civilidade e agride, frontalmente, os fundamentos éticos e democráticos que devem nortear a vida pública em nosso país. Refiro-me à infeliz e chocante fala do deputado federal Gilvan da Federal (PL-ES), que, em sessão oficial da Câmara dos Deputados, declarou desejar a morte do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Independentemente de posições políticas ou partidárias, o que se espera de um parlamentar — eleito para representar o povo e zelar pela Constituição — é equilíbrio, responsabilidade e respeito à dignidade da pessoa humana. Quando um detentor de mandato eletivo vocaliza ódio a ponto de desejar a morte de quem quer que seja, ele não apenas trai o juramento que fez à República, mas também rompe com os valores mínimos da convivência humana.

Como católico, acredito no valor sagrado da vida, desde a concepção até o seu fim natural. Desejar a morte de alguém é, além de pecado grave, um atentado contra o Evangelho de Cristo. Nosso Senhor nos ensinou a amar até os inimigos e a abençoar aqueles que nos perseguem. A política, embora naturalmente marcada por embates, não pode ser palco de incitação à violência ou à morte.

Não se trata aqui de censura, mas de responsabilidade. A liberdade de expressão não pode ser escudo para justificar o discurso de ódio. Quando uma autoridade pública vocifera tamanha agressividade, o Estado Democrático de Direito se vê ameaçado. Mais do que isso, a população — já tão carente de bons exemplos — recebe a mensagem de que o ódio é um meio legítimo de ação política. E não é.

É preciso que os órgãos competentes investiguem e, se for o caso, responsabilizem o parlamentar, inclusive com medidas disciplinares no âmbito da própria Câmara dos Deputados. O silêncio institucional, nesse caso, seria uma conivência perigosa.

Por fim, conclamo todos os homens e mulheres de boa vontade, de todas as crenças e ideologias, a rejeitarem essa lógica do ódio. O Brasil precisa de pontes, não de abismos. De diálogo, não de morte. De líderes que inspirem, não de incendiários.

Edmilson Júnior
Advogado – OAB/SE 5.060
Especialista em Direito Público, Direito Administrativo e Direito Eleitoral

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.