Vivemos na era do imediato. Um tempo em que a velocidade importa mais do que a consistência, e a aparência muitas vezes vale mais que o conteúdo. Isso se reflete nas redes sociais, nas relações pessoais e, inevitavelmente, na política. O uso de medicamentos como o Mounjaro ilustra bem a lógica do imediatismo: promete resultados rápidos para anos de maus hábitos, mas apenas disfarça o problema sem mudar a estrutura. Sem esforço real, tudo tende a voltar, muitas vezes pior.
As redes sociais criaram uma cultura do “antes e depois”, da transformação relâmpago, da promessa sedutora. Ninguém quer o processo. Ninguém quer a dieta, o exercício, a disciplina. Querem a pílula mágica. E é justamente essa lógica que tem contaminado a política brasileira. Os governantes passaram a se preocupar mais com o que será postado do que com o que será construído. A ausência de obras estruturantes revela essa pressa por aplausos digitais.
É inegável que as redes sociais aproximaram os políticos da população. Isso é positivo. A comunicação direta é um avanço democrático. Contudo, é preciso alinhar discurso com prática. Não se pode governar para os stories é preciso governar para as futuras gerações.
Assim como os remédios que camuflam o problema sem tratar a raiz, há políticas públicas feitas apenas para agradar o momento. São medidas paliativas, populistas, pensadas para render manchetes e não resultados duradouros. O esvaziamento do debate, a substituição do conteúdo pela performance e a busca desenfreada por aprovação digital têm tornado o ambiente político um grande teatro de aparências.
Um exemplo claro dessa lógica imediatista e inconsequente são as enchentes que assolam diversas regiões do país. É verdade que as mudanças climáticas agravam o problema, mas muitos desses desastres não são novidade: são tragédias anunciadas. Áreas de risco, falta de drenagem, ocupações desordenadas tudo isso é sabido há décadas, mas as soluções nunca são priorizadas.
Em vez de obras estruturantes e planejamento urbano, opta-se por paliativos, maquiagem urbana para enganar o olhar público. E quando a catástrofe explode, fingem surpresa, posam para fotos e fazem discursos emocionados, como se tudo fosse inevitável. Pior há quem se promova no meio da miséria, aproveitando o sofrimento alheio como palanque.
Governar não é performar. É planejar, construir e, muitas vezes, tomar decisões impopulares em nome do bem coletivo. A verdadeira transformação, exige tempo, esforço, sacrifício e continuidade. Não existe país forte sem base sólida e isso não se resolve com slogans ou stories.
Se não voltarmos a valorizar o conteúdo sobre a aparência, o processo sobre o atalho, e o legado sobre o aplauso, corremos o risco de viver eternamente em ciclos de falsas soluções cada vez mais dependentes de medicamentos políticos que apenas nos fazem sentir bem por instantes, mas nos adoecem no longo prazo.
A política exige esforço, comprometimento e visão. A construção de um país não se faz com atalhos, mas com responsabilidade e planejamento. Beleza sem conteúdo é como governo sem propósito: pode até agradar aos olhos por um tempo, mas não sustenta uma nação.
Sobre o autor

Wesley Araújo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Direito Eleitoral, atualmente mestrando em Direitos Humanos. Além de sua destacada atuação na advocacia, é também radialista e palestrante reconhecido na área de comunicação assertiva, onde desenvolve treinamentos, palestras e cursos voltados ao aprimoramento da comunicação pessoal e profissional. Atua como comentarista jurídico e político, unindo sua sólida formação acadêmica à habilidade prática de traduzir temas complexos para uma linguagem clara, objetiva e acessível ao grande públ