Transtornos e desespero marcam relatos de moradores de Itaporanga D’ajuda sobre aterro sanitário

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“Nunca pensei que ia acontecer isso na frente da minha casa”. É isso o que expressa com dor e desespero Maria Genolita dos Santos, de 78 anos, sobre a situação que enfrenta no Povoado Rio Fundo, em Itaporanga D’ajuda, nas proximidades do aterro sanitário administrado pela empresa Termoclave.

Desde o mês de janeiro, conta, ela e o marido, José Santos, de 79 anos, estão com o abastecimento de água comprometido por conta das atividades do aterro.

“Tem 48 anos que moro aqui neste sítio, mas eles fizeram aqui essa lixeira na frente da minha casa, agora não tenho mais água. Veio aqui o pessoal do Ibama e disse: ‘olha, agora a água da senhora está condenada’. Estou indo buscar água de carroça. E nós estamos aqui numa situação horrível, nunca pensei que ia acontecer isso na frente da minha casa, estou aqui com a maior dor no meu coração, meu terreno lindo e maravilhoso, que Deus abençoe, e eu estou aqui como só sabe Deus, não é fácil”, conta Genolita.

Segundo a idosa, as dificuldades vão além da interrupção no abastecimento, com mau cheiro constante e a presença de urubus nas redondezas.

“Eu amo isso aqui, eu quero muito bem, porque é nosso. Hoje estou sofrendo com o que fizeram ali, é triste, um fedor à noite que você não dorme, é mosquito, tem urubus derrubando os coqueiros que tenho aqui. Estou sofrendo, como os meus vizinhos todos, não é fácil, estou triste porque aconteceu isso com a gente”, afirma.

São relatos como esse que acendem os olhares de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil seccional Sergipe e órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que já questionaram a Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema) de Sergipe sobre o licenciamento para a operação do aterro.

Recentemente, o portal Café com Política Sergipe veiculou a informação de que o aterro sanitário de Itaporanga D’ajuda teria soterrado a nascente do Rio Fundo. Entre os impactos ambientais atrelados à situação estaria a interrupção do fluxo natural das águas, além de contaminação de rios fundamentais para o abastecimento de água e atividades agrícolas na região sul de Sergipe.

À época, o Portal Fan F1 entrou em contato com a Adema, que informou que fiscalizações haviam sido realizadas no aterro de Itaporanga. Conforme o órgão, também deve ser concluída neste mês a etapa de análise das amostras de água e solo que foram coletadas no local para o posterior encaminhamento de providências.

O que dizem especialistas?

Para entender que condições podem estar causando os transtornos relatados pelos moradores e corroborados pelas autoridades, a reportagem conversou com um especialista. Para Eduardo de Castro Gonzaga, engenheiro sanitarista e ambiental, uma das situações que podem gerar consequências negativas, tanto para o meio ambiente quanto para a operação do aterro, é a presença de voçorocas (rachaduras) em taludes das células do aterro sanitário.

A condição, segundo Eduardo, pode aumentar o risco de deslizamentos de terra e de ruptura da célula do aterro.

“Isso pode levar à liberação de resíduos e chorume para o ambiente, causando contaminação do solo, da água e do ar. A erosão causada pela voçoroca pode expor o lixo e o chorume, presentes no aterro, facilitando sua infiltração no solo e contaminando as águas subterrâneas”, explica.

Por esse motivo, o engenheiro afirma que o material erodido pode ser carregado pela chuva para rios e córregos, afetando a qualidade da água e a vida aquática.

“A voçoroca pode criar um ambiente propício para a proliferação de vetores de doenças, como ratos, baratas e mosquitos, que podem transmitir doenças para a população do entorno. A exposição do lixo e a decomposição da matéria orgânica na voçoroca podem gerar mau cheiro e poluição visual, prejudicando a qualidade de vida da população do entorno e a imagem do aterro”, completa.

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