Em 2020, as eleições municipais foram marcadas pelas incertezas produzidas pela pandemia. Os cofres das cidades foram abastecidos de muitos recursos, os gestores puderam enfrentar a crise com as mais diversas ações e houve também espaço para a corrupção. Na gestão pública o crime compensa, o Estado não tem estrutura para investigar tudo, por isso, o custo benefício do risco parece que compensa.

Bom, diante desse quadro, a grande maioria dos gestores se reelegeram. Em minoria, os novos eleitos e eleitas apresentaram como discurso ‘o novo’, ‘a nova política’. Em alguns casos deu muito certo, em outros, parece que a cidade embarcou em um verdadeiro estelionato eleitoral.

Vamos ao caso de Nossa Senhora das Dores. Diante das acusações do Ministério Público, vou partir do direito que o acusado tem de presunção de inocência, se comprovada a suposta corrupção, podemos estar diante de um gestor inexperiente, que não criou mecanismos de proteção, não soube gerir e deixou que o crime acontecesse. É uma vertente.

Vamos a três denúncias:

1 – Dispensa de licitação, sem transparência dos procedimentos para contratar a empresa Riscos e Rabiscos Livraria e Papelaria, valor pouco maior de R$ 75 mil reais. Um dos sócios era diretor em uma secretaria municipal. O MP pediu explicações e, não as tendo, apresentou denúncia contra o prefeito, argumentando que a contratação se deu pela relação pessoal entre as partes;

2 – Dispensa de licitação para contratação da empresa Future Consultoria Ltda, em três contratos que, somados, chegam a R$ 192 mil reais. A gestão argumentou notória especialização da empresa para sustentar a legalidade. Na investigação, o MP descobriu que a empresa foi aberta em dezembro de 2020, meses após a eleição do gestor, e o contrato foi firmado já em janeiro de 2021, dias após a posse. Tempo tão curto de existência derrubam, segundo o MP, a justificativa para a contratação;

3 – Contratação da Alfa Consultoria Ltda, no valor de R$ 72 mil reais. Segundo o MP, o gestor da cidade é compadre de um dos sócios da empresa. Segundo o MP, os argumentos apresentados pela gestão não foram suficientes para justificar a contratação e negar a influência da relação pessoal, como principal motivo para a contratação.

São tão esdrúxulas as situações que fiquei a imaginar se realmente não foi ‘inocência’ de quem pegou esse caminho. Segundo informações, há muitos outros casos que devem surgir nos próximos dias.

Mario da Clínica, nome político assumido pelo prefeito de Nossa Senhora das Dores, o Luiz Mário Pereira de Santana, chegou a política como promessa de renovação. Filiado ao Cidadania, recebeu o ‘carimbo’, o atesto dos líderes da agremiação que foram a sua campanha para garantir que Mário seria íntegro e combateria a corrupção.

Se ficarem comprovadas as acusações do MP, estaremos diante de mais um caso de hipocrisia e traição na política e contra o eleitorado dorense. Será a comprovação de que discurso e prática nem sempre se associam e que, por vezes, a mudança não é garantia efetivamente de uma boa, ou nova política.

Não custa lembrar que o prefeito Mário não é o único político de Dores que já passou por investigações do MP. Que o povo se apegue a Nossa Senhora das Dores nas próximas escolhas.

NOTAS DA SEMANA

“Não vendo a Deso”
O governador Fábio Mitidieri disse ontem, em Porto da Folha, que não irá vender a Deso. Garantiu que o que está se buscando é dar a concessão da distribuição da água para capitalizar a empresa e universalizar o acesso à água. Na oportunidade, o governador parabenizou o trabalho de Luciano Goes a frente da empresa.

Fábio no foco positivo
Após algumas semanas de discursos com tom mais duro e críticas contra a Deso, o governador Fábio Mitidieri mudou a rota e passou a elogiar a empresa. Fez reconhecimento em Porto da Folha da importância que a Deso tem para Sergipe. Faz bem, ondeaste sobre a polêmica concessão ganha outro nível com essa postura.

TCE recebe ofício
O governador Fábio Mitidieri revelou à coluna que encaminha na próxima segunda-feira, ao Tribunal de Contas de Sergipe e a Assembleia Legislativa de Sergipe, a sua indicação para o cargo de conselheiro da Corte de Contas. Questionado sobre o nome, ele não confirmou, apenas disse “sem surpresas”.

Felizola na Alese
Este colunista encontrou com o especulado futuro conselheiro do Tribunal de Contas de Sergipe, José Carlos Felizola, nos corredores da Alese. Questionado se estava em busca de votos, ele limitou-se a dizer que eram “visitas de cortesia”.

Grato a André
O governador também comentou com este colunista sobre a análise que fizemos de um possível embate entre ele e André Moura em 2024 por objetivos eleitorais diferentes. “Vi também suas falas sobre André. Temos uma relação tranquila. Ele foi muito importante pra mim no segundo turno e tenho gratidão”.

Silêncio de Luizão
O deputado estadual Luizão Dona Trampi está em silêncio após a revelação de que o seu chefe de gabinete, Cesar Cardoso, nomeou no gabinete a esposa, a filha, a nora e o cunhado. O salário da família supera os R$ 30 mil reais. Publicamente a gente volta a referendar que o espaço está aberto no Jornal da Fan.

Luizão quer capacitação
O deputado apresentou um Projeto de Lei que tem como objetivo tornar obrigatória a capacitação dos profissionais da educação, que cuidam diretamente de crianças com autismo. A proposta visa garantir que esses profissionais estejam aptos a oferecer um tratamento especializado a essas crianças. Caso aprovado, o projeto irá obrigar o Governo do Estado a capacitar os profissionais da educação para lidar com crianças autistas. Boa iniciativa.

Rogério no Agreste
A ida do senador Rogério Carvalho ao Agreste sergipano para evento em Itabaiana na noite da última sexta-feira, 14, foi marcada pelas presenças de prefeitos e lideranças locais, entre elas o prefeito de Itabaiana, Adailton Souza (PL). Adailton fez discurso afirmando que estava “do lado de quem optou enfrentar o sistema”.

Rogério não recua
O senador Rogério Carvalho tem sido aconselhado a recuar do tom duro do seu discurso. Ele não o fará e continuará rodando o estado para denunciar o que ele considera uma “eleição comprada”. Segundo o senador, o que definiu a eleição de 2022 não foram erros políticos e sim o abuso de poder político e econômico.

Sem Valmir
O evento de Rogério foi de certa forma abafado pela polêmica declaração de Valmir à nossa coluna Bastidores. Valmir disse não ter sido convidado e que não se faria presente porque não há continuidade de aliança com Rogério. Pela manhã Rogério disse ao Jornal da Fan que por ele, a aliança permaneceria.

Outra ausência
Fora as lideranças do agreste outras personalidades políticas estiveram no evento. Mas houve uma ausência sentida. A de Valadares Filho, que foi candidato ao Senado na chapa de Rogério. Após apurar, a informação é de que Valadares está em viagem com a família. Mas há quem diga que ele estaria chateado com uma certa desatenção da parte de Rogério Carvalho após as eleições. Será?

Luciano se retrata
O ex-prefeito de Propriá Luciano de Menininha (PP) foi obrigado a pedir desculpas ao deputado federal João Daniel (PT). Na campanha de 2022, Luciano proferiu palavras de baixo calão com graves acusações ao petista. Daniel ingressou com ação e aceitou acordo para retratação pública. O vídeo está postado nas redes sociais de Luciano.