Desde os primórdios da humanidade, o ser humano vive em torno de dualidades. Luz e trevas, bem e mal, belo e feio, certo e errado. Essas forças opostas não apenas coexistem — elas se complementam. Uma só existe porque a outra está ali, como espelho e contraste. Essa dualidade é natural, humana. Mas quando transborda para o campo da convivência social e política sem equilíbrio, ela se torna perigosa.
O Brasil mergulhou de cabeça nessa lógica binária. Nossa política virou um ringue onde não há debate, apenas embate. Famílias divididas, casais em silêncio, amizades desfeitas. Não por diferenças profundas, mas por bandeiras políticas que foram transformadas em times de futebol — ou pior, em guerras santas.
Essa polarização não é por acaso. Ela favorece justamente os grupos que se revezam no poder, mantendo o país refém de uma eterna disputa entre dois lados. Dois homens dominam a cena política brasileira há anos — Lula e Bolsonaro — e isso parece ter esvaziado o espaço para novas ideias, novos nomes, novas formas de governar. Onde estão as alternativas? Onde está a renovação? Como podemos avançar se o cenário político se resume a uma briga entre dois polos?
O que se vê é um jogo sujo de acusações, rótulos e narrativas. Pouco se fala de propostas reais. Pouco se debate projetos de país. O que importa é vencer a discussão, não construir uma solução. É convencer pela raiva, não pelo argumento. É manipular a massa com frases prontas, memes e fake news, enquanto os reais problemas — saúde, educação, segurança, emprego — continuam à margem da discussão.
Precisamos parar. Respirar. Refletir. Os que se dizem defensores do Brasil precisam ter a coragem de fazer o que realmente exige maturidade: sentar à mesa, com respeito, civilidade e disposição para ouvir. Cada um com sua proposta, sua ideia, seu ponto de vista. É assim que se constrói democracia. Não no grito, nem no ódio. Mas no diálogo.
Enquanto o brasileiro não entender que política é, antes de tudo, a arte do bem comum, continuaremos presos nesse ciclo mesquinho, onde ganhar é mais importante que governar, onde estar no poder importa mais do que ter propostas claras e executar aquilo que se prometeu.
Democracia de verdade é feita de diálogo. É saber que as diferenças não são obstáculos, mas sim pontes para mudanças reais e melhorias concretas. Crescer como nação é crescer com todos. É construir um país onde o debate civilizado substitui o ódio, onde a política não seja um ringue, mas uma mesa de construção conjunta.
Não existe verdade absoluta, assim como não existe governo perfeito — nem à direita, nem à esquerda. Todos os lados, em algum momento, erraram, tomaram decisões questionáveis, falharam com promessas e deixaram a desejar em pontos essenciais. Idealizar um grupo político como infalível é tão perigoso quanto demonizar o outro. O que falta, na verdade, é coerência, é a capacidade de reconhecer acertos e falhas com honestidade. A verdadeira construção política nasce quando se está disposto a ouvir, aprender com o diferente e aceitar que opiniões divergentes não são ameaças, mas oportunidades de crescimento coletivo.
No fim das contas, nesse jogo ninguém vence — é o Brasil que continua perdendo. Não existem mais projetos de país, mas sim projetos de poder, sustentados por discursos ideológicos que servem apenas para alimentar divisões. Enquanto isso, o brasileiro sente no bolso o peso dessa guerra sem sentido — inflação, serviços públicos precários, falta de perspectivas.
A conta já chegou, e quem paga é sempre o povo. Não precisamos de heróis, de mitos ou de verdades absolutas. Precisamos de consciência. De maturidade política. De compromisso com o futuro. A grande pergunta não é quem está certo. A grande pergunta é: até quando vamos permitir que o Brasil continue dando errado?
Sobre o autor

Wesley Araújo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Direito Eleitoral, atualmente mestrando em Direitos Humanos. Além de sua destacada atuação na advocacia, é também radialista e palestrante reconhecido na área de comunicação assertiva, onde desenvolve treinamentos, palestras e cursos voltados ao aprimoramento da comunicação pessoal e profissional. Atua como comentarista jurídico e político, unindo sua sólida formação acadêmica à habilidade prática de traduzir temas complexos para uma linguagem clara, objetiva e acessível ao grande público.