A população sergipana está envelhecendo. De acordo com dados do Censo 2022, divulgados nesta sexta-feira, 27, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no estado, o índice de envelhecimento da população saltou de 22,83 em 2010 para 43,02 em 2022.
Para pesquisador (veja abaixo), o quadro de rápido envelhecimento decorre da redução da taxa de fecundidade e do aumento da expectativa de vida no estado, seguindo tendência nacional.
Em 2022, a idade mediana da população em Sergipe era de 33 anos, o que significa que metade da população tinha mais de 33 anos e a outra metade tinha menos de 33 anos. O resultado ficou abaixo da mediana nacional, de 35 anos.
Entenda o índice de envelhecimento
O índice de envelhecimento sinaliza a quantidade de pessoas com 65 anos ou mais de idade para cada 100 pessoas com idade entre 0 e 14 anos. A partir de 100, o índice de envelhecimento aponta que há mais pessoas idosas do que pessoas jovens.
No caso de Sergipe, há cerca de 43 idosos para cada 100 jovens. Por conta disso, a população do estado ainda é considerada relativamente jovem, quando comparada à população brasileira (55,24 idosos para cada 100 jovens) ou à população nordestina (47,89 idosos para cada 100 jovens).
Em 2022, havia cerca de 201.992 pessoas com 65 anos ou mais de idade no estado, o que representa 9,09% da população. Já as pessoas com idade entre 0 e 14 anos eram 469.501, configurando 21,14% dos habitantes.
O IBGE aponta, no entanto, que há muita variação do índice de envelhecimento entre os 75 municípios sergipanos: em Itabi, ele alcança 68,98, mas não passa de 23,32 em Nossa Senhora do Socorro. Os maiores índices de envelhecimento estão no Médio Sertão e no Agreste Central sergipanos, ao passo que os menores índices estão no entorno de Aracaju e em municípios do Alto e Baixo São Francisco.
Segundo o professor Kleber Oliveira, do Departamento de Estatística e Ciências Atuariais da Universidade Federal de Sergipe (UFS), o estado segue a tendência nacional de transição demográfica, entre outros pontos, devido aos processos de urbanização e industrialização.
“Para ilustrar, nos anos 80, uma mulher esperava ter, ao final do seu período reprodutivo, cerca de seis filhos. Hoje, passados 40 anos, o casal não consegue se repor, ou seja, a taxa de fecundidade dos anos 80 era de seis filhos, mas hoje a taxa de fecundidade em Sergipe é 1.9, estamos abaixo do nível de reposição. Segundo, há aumento da esperança de vida. As pessoas estão vivendo mais, pois a cada década, nós ganhamos cerca de três, quatro anos na esperança de vida”, explicou.
De forma resumida, as famílias passaram a ter menos filhos e isso, a médio e longo prazo, ocasiona o envelhecimento demográfico. Diante desse cenário, o professor destaca a importância da consideração de dados do Censo e outras informações demográficas na formulação de políticas públicas.
“Cerca de 60% da população do bairro São José, em Aracaju, é de idosos. Isso implica que, no desenho de uma política pública, eu devo considerar o perfil da população. Então se eu tenho um bairro envelhecido, como é o caso do bairro São José, do bairro Santo Antônio e do bairro América, eu não vou instalar lá, por exemplo, uma quadra de skate. Eu devo instalar equipamentos de lazer que atendam à expectativa dessa população idosa”, completou Kleber.
Trabalho e Previdência
Segundo o professor, a impossibilidade de reverter a tendência de envelhecimento pode acarretar na diminuição da população em idade de trabalho, o que impacta diretamente o setor previdenciário.
“E essa população, que está hoje na idade de 20 a 50 anos, está pressionando o mercado de trabalho. Essa população não tem emprego formal e não recolhe INSS. Mas eles vão precisar recolher para ter aposentadoria. Então teremos um outro problema, a redução da fecundidade vai diminuir, em algum momento, o número de pessoas em idade de trabalhar”, detalhou.
Ainda de acordo com o professor, a problemática do déficit previdenciário decorre justamente da dificuldade de incorporar a população que poderia ser economicamente ativa no mercado formal.
“Temos um momento de bônus demográfico, mas o problema é que nós não estamos conseguindo absorver no mercado de trabalho formal essa população. Então, o que a gente tem? Um alto índice de trabalho precário, trabalho informal, pois 56% dos ocupados estão no setor informal, isso quer dizer que não recolhem o INSS, mas demandam igualmente do sistema público de saúde, da educação pública. Então, o que a gente tem? Que 44% da população sergipana contribui para o sistema previdenciário, contribui para a camada protetora da sociedade, enquanto 56%, por insuficiência do mercado de trabalho, não consegue se incorporar no setor formal”, finalizou.