Na última terça-feira, 14, um caso polêmico envolvendo a Polícia Militar de Sergipe (PM/SE) gerou acusações de abuso de autoridade e irregularidades durante uma abordagem na BR-235, no povoado Oiteiros, em Nossa Senhora do Socorro. A defesa de H. J., um dos envolvidos, denuncia que policiais teriam plantado drogas e desaparecido com R$ 200 mil encontrados no veículo dele. A PM nega a versão.

Segundo a advogada de H. J, Lilian Karine, seu cliente seguia dirigindo o veículo, um polo de cor cinza, na companhia de L. L, a caminho da cidade de Itabaiana para realizar pagamentos para uma casa de apostas esportivas. A dupla, que trabalha como cambista, foi abordada por militares da Radiopatrulha, por volta das 6h, em um local afastado, cerca de 2 km após o radar da rodovia, onde o sinal de telefone já é fraco.

“Após uma revista ao veículo, os policiais encontraram a quantia de R$ 200 mil em espécie, que o denunciante afirmou ser referente ao trabalho de rotina no pagamento de apostas. Os militares questionaram sobre o histórico criminal de H.J., que admitiu ter cumprido pena por tráfico de drogas em 2009, mas afirmou que desde então seguia outra vida. Em seguida, os policiais retornaram ao veículo e surgiram com uma sacola contendo uma arma de fogo e drogas, acusando um deles, o motorista, da posse do material ilícito”, afirma.

Ainda segundo a advogada, H. J. foi colocado no camburão da viatura, enquanto L. L. foi transportado no banco de trás do veículo.

O Portal Fan F1 teve acesso, com exclusividade, a um vídeo que mostra o momento em que a viatura deixa L. L. em um trecho da avenida Maranhão, nas imediações do Hospital Nestor Piva, na Zona Norte de Aracaju. O registro foi feito por uma câmera de segurança de um estabelecimento comercial às 6h30. Nas imagens, é possível ver que L. L. aparece vestido com uma camisa do Brasil amarela. Ao descer do veículo, ele chega a conversar com um dos policiais, se despede, e segue portando uma sacola com conteúdo desconhecido.

Em seguida, a viatura se deslocou até a Central de Flagrantes, no bairro Santos Dumont, em Aracaju, onde foi confeccionado o Registro de Ocorrência Policial (ROP), acompanhado pelo delegado plantonista Gabriel Ribeiro. No relatório policial, em nenhum momento, os quatro militares envolvidos na ação relataram ter encontrado no veículo a quantia de R$ 200 mil da casa de apostas. Eles informaram que a abordagem foi motivada por uma denúncia feita por uma condutora que teria afirmado que o veículo dos suspeitos realizou uma manobra brusca que quase resultou em acidente e que um dos ocupantes teria apontado uma arma de fogo em sua direção.

Ainda no relatório, os militares relataram ter apreendido um pacote contendo ziplock’s vazios; uma chave tipo canivete do veículo; uma balança de precisão; um relógio preto; dois aparelhos celulares e um cartão de crédito. Eles detalharam ainda que foi encontrado um revólver calibre .32, com numeração suprimida e seis munições intactas.

A prisão de H. J. foi convertida em preventiva pelo Judiciário e ele foi conduzido ao presídio do Presídio Santa Maria – Complexo Penitenciário Antônio Jacinto Filho (COMPAJAF) onde está custodiado.

A advogada questiona a conduta da PM em diversos pontos. “Primeiro, a abordagem ocorreu em uma rodovia federal, cuja jurisdição é da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Além disso, não há registro de uma suposta vítima que teria denunciado meu cliente por ameaça de arma de fogo, justificativa apresentada pela PM para a abordagem”, questiona.

Outro ponto levantado foi o sumiço dos R$ 200 mil encontrados no veículo. Segundo Lilian Karine, a quantia desapareceu durante a abordagem e não foi registrada no boletim de ocorrência. “Não existe qualquer menção ao dinheiro na documentação oficial, muito menos a citação do L. L. no cenário da ação policial. É uma situação gravíssima, que exige investigação profunda. Temos como provar o dinheiro, porque o meu cliente é cambista possui todos os comprovantes de pagamentos das apostas”, afirmou.

A 7ª Delegacia Metropolitana, comandada pelo delegado de Polícia Civil, Hugo Leonardo, está investigando o crime de tráfico de drogas. Até o momento, a esposa de H. J foi ouvida. L. L. será interrogado nesta sexta-feira, 17. A polícia quer entender qual era a relação dele com H. J. e com os militares. Além disso, o que ele estava portando na sacola ao deixar a viatura. O delegado também já está com parte dos comprovantes bancários que podem comprovar a existência do dinheiro no veículo.

A defesa levou a denúncia para a Corregedoria de Polícia Militar, que ao ser procurada por esta reportagem, informou que “o caso será investigado, mas que até o momento não se tem nenhuma prova contra os policiais da Radiopatrulha e o Poder Judiciário homologou a prisão do suspeito que mostra a legalidade da ação policial”, afirmou o Tenente-Coronel da PM, Edson Oliveira.

Ao ser questionado sobre a relação dos militares com L. L. e o conteúdo encontrado na sacola, o Tenente-Coronel Edson não se manifestou. Em relação às inconsistências no Relatório de Ocorrência Policial (ROP), que mencionava apenas um ocupante no veículo, apesar do transporte de um segundo homem deixado na Avenida Maranhão, a Polícia Militar inicialmente afirmou que apenas o motorista, H. J., estava envolvido na ação. No entanto, após receberem um vídeo enviado pelo Portal Fan F1, que mostrava L. L. saindo da viatura, a PM mudou a versão e informou que o homem detido na abordagem havia afirmado que seu colega não tinha qualquer relação com o material apreendido. A corporação acrescentou que, devido a um mal-estar, os militares transportaram o L.L. até as proximidades do Hospital Nestor Piva para que ele busca-se atendimento médico.

A PM também destacou que o H. J. tem um histórico criminal relevante, incluindo apropriação indébita (2019), direção perigosa (2019), cumprimento de mandado de prisão por crimes cibernéticos (2019) e, mais recentemente, uma prisão no início de 2025 por tráfico de drogas e posse ilegal de arma de fogo.

Sobre o questionamento da defesa sobre a atuação da Radiopatrulha na BR-235, a PM ressaltou sua jurisdição para atuar em todo o território estadual no combate à criminalidade e informou que a intervenção foi motivada por uma denúncia feita por uma condutora.

A reportagem do Portal Fan F1 não conseguiu contato com a empresa de apostas.