Artigo – A verdade sobre a ala azul do HUSE e o uso político da desinformação

Antes de qualquer conclusão precipitada, é preciso diferenciar dois conceitos que vêm sendo usados como se fossem sinônimos: superlotação e aumento de demanda. Superlotação ocorre quando o número de pacientes ultrapassa a capacidade operacional do hospital, gerando desassistência, risco à vida, atraso no atendimento e colapso no sistema. Já o aumento de demanda significa alta ocupação dos leitos e pressão sobre o fluxo hospitalar, mas com todos os pacientes assistidos, monitorados e atendidos. A diferença é clara: no primeiro cenário, há caos e desamparo; no segundo, há esforço e pressão, mas a assistência está garantida.

As imagens divulgadas recentemente mostram pacientes na ala azul acomodados em macas apropriadas, acompanhados por equipes médicas e recebendo a atenção necessária. Não há desassistência. O que existe é um hospital de porta aberta, que, por natureza, não pode recusar atendimento a nenhum paciente e, por isso, absorve um volume crescente de casos, inclusive aqueles classificados como de baixa complexidade. A ala azul integra o protocolo internacional de classificação de risco e destina-se justamente a pacientes com quadros clínicos leves ou não urgentes, cujo estado de saúde não oferece risco iminente de vida. Nessas situações, o fluxo elevado não significa abandono, e sim a busca espontânea por atendimento em um hospital de referência.

O aumento da procura na ala azul pode ter diversas causas. A confiança da população no HUSE faz com que muitos pacientes procurem diretamente o hospital, mesmo em casos simples, sem passar antes por unidades básicas de saúde ou UPAs. Em alguns municípios, inclusive de outros Estados, a atenção primária ainda apresenta limitações, o que empurra para o HUSE demandas que poderiam ser resolvidas localmente. Há também fatores sazonais, como a maior incidência de viroses, síndromes gripais, dengue e outras, que naturalmente elevam a busca por atendimento, inclusive para casos de menor gravidade. Além disso, muitos usuários recorrem ao hospital para ter acesso mais rápido a exames e especialistas, mesmo quando não há necessidade de urgência.

Mais preocupante do que a confusão conceitual, porém, é o uso político das imagens. Parte significativa dos autores dessas publicações sabe perfeitamente o que significa a ala azul e entende a diferença entre superlotação e alta demanda assistida. Ainda assim, opta por omitir informações técnicas para induzir a população ao erro e criar a falsa sensação de colapso, numa estratégia deliberada de produzir desinformação e fragilizar a credibilidade do sistema de saúde estadual em busca de ganho político fácil. Essa prática, além de irresponsável, compromete a confiança da população e prejudica o debate qualificado sobre saúde pública.

O HUSE cumpre o papel de hospital de referência estadual, funcionando em regime de porta aberta e atendendo milhares de sergipanos e brasileiros de outros Estados, todos os meses. A alta ocupação da ala azul pressiona a estrutura, mas não significa caos nem abandono. O Estado de Sergipe tem investido no fortalecimento da rede de saúde, na ampliação dos hospitais e na melhoria dos fluxos assistenciais, mas o enfrentamento desse cenário exige uma atuação integrada entre municípios, hospitais regionais e atenção primária. Desinformar a população com imagens fora de contexto não resolve o problema — pelo contrário, agrava-o, porque gera medo, desconfiança e tensão social.

A verdade é que a alta ocupação da ala azul reflete aumento de demanda, e não necessariamente superlotação. Pacientes continuam sendo atendidos, acompanhados e assistidos, ainda que o sistema esteja sob velha e conhecida pressão. Transformar essa situação técnica e sistêmica em discurso de caos é uma estratégia que serve a interesses políticos, mas não contribui para melhorar a saúde pública. Pelo contrário, enfraquece a confiança da população e afasta soluções conjuntas.

É dever de todos — gestores, profissionais de saúde, comunicadores e formadores de opinião — informar com responsabilidade, com base em fatos e dados. A saúde pública não pode ser instrumentalizada como ferramenta de disputa política. A população merece informação verdadeira, contexto adequado e transparência, não narrativas de medo criadas para alimentar agendas eleitorais.

Não podemos aceitar que essa turma faça da saúde pública sua Geni, que é feita pra apanhar e é boa de cuspir.

Nos últimos dias, diversas publicações em redes sociais, blogs políticos e sites especializados têm estampado imagens da ala azul do Hospital de Urgências de Sergipe (HUSE), apresentando-as como evidência de “superlotação” e insinuando incompetência do Estado na gestão da saúde pública. Essa narrativa, contudo, ignora — e, em muitos casos, deliberadamente omite — aspectos técnicos fundamentais para compreender o que, de fato, está acontecendo.

Antes de qualquer conclusão precipitada, é preciso diferenciar dois conceitos que vêm sendo usados como se fossem sinônimos: superlotação e aumento de demanda. Superlotação ocorre quando o número de pacientes ultrapassa a capacidade operacional do hospital, gerando desassistência, risco à vida, atraso no atendimento e colapso no sistema. Já o aumento de demanda significa alta ocupação dos leitos e pressão sobre o fluxo hospitalar, mas com todos os pacientes assistidos, monitorados e atendidos. A diferença é clara: no primeiro cenário, há caos e desamparo; no segundo, há esforço e pressão, mas a assistência está garantida.

As imagens divulgadas recentemente mostram pacientes na ala azul acomodados em macas apropriadas, acompanhados por equipes médicas e recebendo a atenção necessária. Não há desassistência. O que existe é um hospital de porta aberta, que, por natureza, não pode recusar atendimento a nenhum paciente e, por isso, absorve um volume crescente de casos, inclusive aqueles classificados como de baixa complexidade. A ala azul integra o protocolo internacional de classificação de risco e destina-se justamente a pacientes com quadros clínicos leves ou não urgentes, cujo estado de saúde não oferece risco iminente de vida. Nessas situações, o fluxo elevado não significa abandono, e sim a busca espontânea por atendimento em um hospital de referência.

O aumento da procura na ala azul pode ter diversas causas. A confiança da população no HUSE faz com que muitos pacientes procurem diretamente o hospital, mesmo em casos simples, sem passar antes por unidades básicas de saúde ou UPAs. Em alguns municípios, inclusive de outros Estados, a atenção primária ainda apresenta limitações, o que empurra para o HUSE demandas que poderiam ser resolvidas localmente. Há também fatores sazonais, como a maior incidência de viroses, síndromes gripais, dengue e outras, que naturalmente elevam a busca por atendimento, inclusive para casos de menor gravidade. Além disso, muitos usuários recorrem ao hospital para ter acesso mais rápido a exames e especialistas, mesmo quando não há necessidade de urgência.

Mais preocupante do que a confusão conceitual, porém, é o uso político das imagens. Parte significativa dos autores dessas publicações sabe perfeitamente o que significa a ala azul e entende a diferença entre superlotação e alta demanda assistida. Ainda assim, opta por omitir informações técnicas para induzir a população ao erro e criar a falsa sensação de colapso, numa estratégia deliberada de produzir desinformação e fragilizar a credibilidade do sistema de saúde estadual em busca de ganho político fácil. Essa prática, além de irresponsável, compromete a confiança da população e prejudica o debate qualificado sobre saúde pública.

O HUSE cumpre o papel de hospital de referência estadual, funcionando em regime de porta aberta e atendendo milhares de sergipanos e brasileiros de outros Estados, todos os meses. A alta ocupação da ala azul pressiona a estrutura, mas não significa caos nem abandono. O Estado de Sergipe tem investido no fortalecimento da rede de saúde, na ampliação dos hospitais e na melhoria dos fluxos assistenciais, mas o enfrentamento desse cenário exige uma atuação integrada entre municípios, hospitais regionais e atenção primária. Desinformar a população com imagens fora de contexto não resolve o problema — pelo contrário, agrava-o, porque gera medo, desconfiança e tensão social.

A verdade é que a alta ocupação da ala azul reflete aumento de demanda, e não necessariamente superlotação. Pacientes continuam sendo atendidos, acompanhados e assistidos, ainda que o sistema esteja sob velha e conhecida pressão. Transformar essa situação técnica e sistêmica em discurso de caos é uma estratégia que serve a interesses políticos, mas não contribui para melhorar a saúde pública. Pelo contrário, enfraquece a confiança da população e afasta soluções conjuntas.

É dever de todos — gestores, profissionais de saúde, comunicadores e formadores de opinião — informar com responsabilidade, com base em fatos e dados. A saúde pública não pode ser instrumentalizada como ferramenta de disputa política. A população merece informação verdadeira, contexto adequado e transparência, não narrativas de medo criadas para alimentar agendas eleitorais.

Não podemos aceitar que essa turma faça da saúde pública sua Geni, que é feita pra apanhar e é boa de cuspir.

Sobre o autor

Adir Machado é advogado com 25 anos de experiência e pós-graduado em licitações e contratos administrativos. Atualmente é Assessor da Secretaria Estadual de Saúde de Sergipe. Fundador do escritório Adir Machado Advogados Associados.

Como advogado atuou na defesa de diversas Câmaras Municipais e Prefeituras. Além disso, é autor de diversos artigos científicos em áreas como o Direito Constitucional, Administrativo, Financeiro, Civil e Processo Civil.

Nas últimas duas décadas foi contratado diversas vezes por entes políticos via inexigibilidade de licitação, visto que é profissional reconhecido pelo Tribunal de Contas como detentor de notória especialização em direito público.

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