Fortuna de 1% dos mais ricos do mundo acabaria com a pobreza por 22 anos

Um relatório divulgado nesta quarta-feira, 25, pela Oxfam Brasil revelou que a riqueza dos 1% mais ricos do mundo aumentou mais de US$ 33,9 trilhões (em termos reais) desde 2015, valor suficiente para acabar com a pobreza por 22 anos.

Os dados são do relatório “Do Lucro Privado ao Poder Público: Financiando o Desenvolvimento, Não a Oligarquia” que será lançado antes da 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento (30 de junho), organizada pela Espanha com participação de mais de 190 países.

Segundo o documento, o montante seria suficiente para eliminar a pobreza global anual 22 vezes, considerando o limite máximo de US$ 8,30 por dia do Banco Mundial. A fortuna de apenas 3.000 bilionários cresceu US$ 6,5 trilhões no mesmo período – 2015 a 2025 – e agora equivale a 14,6% do PIB global.

A análise ainda denuncia que países ricos estão realizando os maiores cortes em ajuda humanitária desde 1960. Os países do G7, responsáveis por 75% da ajuda oficial, reduzirão seus repasses em 28% até 2026. Enquanto isso, a crise da dívida está levando governos à falência: 60% dos países de baixa renda estão à beira do colapso, gastando mais com credores do que com saúde e educação. Apenas 16% das metas dos ODS estão no rumo certo para 2030.

A Oxfam critica a estratégia de priorizar investidores privados, que beneficiou os mais ricos (os 1% detêm 43% dos ativos globais), mas falhou em mobilizar recursos suficientes para o desenvolvimento. Credores privados, que hoje representam metade da dívida dos países pobres, agravam a crise com termos abusivos e recusa em renegociar.

O relatório ainda aponta que, entre 1995 e 2023, a riqueza privada global cresceu US$ 342 trilhões – 8 vezes mais que a riqueza pública global, que aumentou apenas US$ 44 trilhões. A riqueza pública global – como parcela da riqueza total – na verdade diminuiu entre 1995 e 2023.

“O Brasil é um retrato escancarado do fracasso do atual modelo de desenvolvimento global, que prioriza lucros privados em vez do bem-estar coletivo. A extrema concentração de riqueza no topo, alimentada por um sistema tributário injusto e regressivo, aprofunda desigualdades históricas de raça e gênero. São as mulheres negras, indígenas e periféricas que pagam o preço mais alto da crise climática, da fome e do desmonte dos serviços públicos. Precisamos urgentemente de um pacto global baseado em justiça tributária, fortalecimento do setor público e reparação histórica. Os trilhões acumulados pelos super-ricos, inclusive no Brasil, não podem mais ser blindados. A população já sinalizou que 9 em cada 10 brasileiras e brasileiros apoiam taxar fortemente os mais ricos para financiar saúde, educação e ação climática”, afirmou Viviana Santiago, Diretora Executiva da Oxfam Brasil.

Como solução, a Oxfam aconselha os governos a se unirem em torno de propostas políticas que ofereçam uma mudança de rumo, combatendo a desigualdade extrema e transformando o sistema de financiamento do desenvolvimento.

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