Um encontro improvável mudou o destino de uma família sergipana. Enquanto seguiam em desespero para o hospital com um bebê engasgado nos braços, os pais do pequeno Benício, com menos de um mês de vida, cruzaram com uma viatura do Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe (CBMSE), que atendia a uma ocorrência de incêndio. Em poucos minutos, o silêncio de angústia foi quebrado pelo som mais esperado: o choro de Benício, sinal de que a vida havia sido restaurada. O caso ocorreu no dia 6 de maio.
Tudo aconteceu por volta das 23h. Equipes do 4º Grupamento Bombeiro Militar (GBM), com sede em Nossa Senhora do Socorro, foram acionadas para combater um incêndio em uma edificação no bairro Fernando Collor. Devido à dificuldade de acesso pelas ruas estreitas, o Auto Salvamento (AS), viatura menor, foi enviado à frente para localizar o endereço exato do chamado.
“O fogo já havia sido controlado quando recebemos o inesperado pedido de ajuda”, relatou o subtenente Thiago Gonzaga, chefe da guarnição. “Um carro parou do outro lado da avenida. A mãe desceu com o bebê nos braços, visivelmente em pânico. A criança estava molinha, sem reação.”
O soldado Vitor Ferreira foi o primeiro a atender ao chamado urgente. “Percebi que algo estava errado pela forma como o carro se aproximava. O motorista gritava que o bebê estava engasgado. Imediatamente abri a porta do caminhão e corri até eles. A mãe me entregou a criança, e comecei as manobras ali mesmo, na rua.”
Poucos segundos depois, a soldado Ellen Clycia juntou-se ao colega para dar continuidade às técnicas de desobstrução das vias aéreas. A situação, no entanto, se agravava. “A cada tentativa sem resposta, a aflição aumentava. Decidimos colocar o bebê na viatura e seguir para o hospital, enquanto continuávamos as manobras durante o trajeto”, relembrou Gonzaga.
Foi então que, já em frente à sede do 4º GBM, um sinal de esperança surgiu. “O bebê chorou. Eu me arrepio só de lembrar. O olhar da mãe naquele instante foi algo que nunca vou esquecer”, contou a soldado Clycia, emocionada. “A técnica é importante, claro, mas há algo maior. Sinto que somos instrumentos de Deus. Vestir essa farda é uma dádiva.”
O momento ficará marcado para sempre na memória dos envolvidos. “O silêncio daquela noite dizia tudo. O desespero da mãe, o empenho da equipe… e, de repente, o choro. São 22 anos de serviço, mas essa ocorrência vai ficar gravada em mim para sempre”, disse o subtenente Gonzaga, pai de três filhos.
O caso é mais do que um resgate bem-sucedido. É uma prova de que, mesmo diante do caos, a vida encontra caminhos para ser preservada — graças à coragem, à técnica e à sensibilidade de quem escolheu proteger o próximo como missão.