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AVC: a importância da difusão de conhecimento e uso de tecnologias no combate a um inimigo silencioso

Por João Figueiredo e Larissa Moura

30/12/2024


28 de agosto de 2011 era um dia comum na vida de Inaldo Sales. Mecânico-líder, trabalhava na manutenção dos carros da empresa Torre, que presta serviços de limpeza à Prefeitura de Aracaju, mas neste dia acordou com uma forte dor de dente do lado esquerdo da face. Mesmo assim, seguiu normalmente ao trabalho. Já no ‘batente’, ouviu a seguinte frase do colega de serviço: “Inaldo, seu olho esquerdo está piscando bastante”. Ele não se importou.

Mais tarde, quando saiu do local de trabalho, e diante da persistência da dor dentária, foi a um bar e procurou o que achava ser o remédio: uma dose de genebra com sal – uma pinga.

“Quando foi de tardinha, eu saí da Torre, que era a empresa de lixo daqui de Aracaju, e em vez de procurar farmácia para tomar um remédio, porque eu tava com uma dor de dente imensa, fui para um bar e disse: ‘bota uma genebra com sal’, pensando que ia resolver o problema do dente. ‘Bota uma genebra com sal’. Botou uma genebra – que é uma pinga, uma cachaça que os ‘bebo’ usam para resolver isso – aí mandei botar sal”, contou.

Sem saber o que estava acontecendo, Inaldo acabou agravando o que para ele não era nada de mais. Porém, já por volta das 22h, após um cochilo, acordou assustado, sentindo algo na face e expressou para a esposa: “minha mulher, meu rosto tá inchado”. Em seguida, pediu um remédio, mas já era tarde.

Ao compartilhar sua experiência com o AVC, Inaldo Sales busca conscientizar mais pessoas sobre os cuidados com a doença | Fotos: Matheus Costa

“Eu botei a mão assim pra ver se a cara estava inchada. Disse assim: ‘minha cara tá inchada’, e ela me deu um remédio pra dor do dente. Quando ela me deu o remédio e eu bebi, aí eu senti que eu perdi o movimento. Perdi o movimento por total, cara. Perdi o movimento todo, aí já precisei do auxílio de alguém”, lembrou.

Inaldo foi conduzido inicialmente para o Hospital Nestor Piva, em Aracaju, onde passou 15 dias internado. Depois, transferido para o Hospital de Urgências de Sergipe Governador João Alves Filho (Huse), também na capital, passou mais três meses sob os cuidados da equipe, em cima de uma cama. O dia 28 de agosto de 2011 marcou uma virada completa na vida de Inaldo, acometido por um Acidente Vascular Cerebral (AVC) do tipo hemorrágico, a forma mais grave.

De um homem completamente ativo e responsável pela renda familiar, tornou-se completamente dependente diante das sequelas do AVC. Hoje, aos 66 anos, Inaldo compreende tudo o que passou e se diz responsável pelo que aconteceu. Ele relata que havia descoberto sofrer de hipertensão quatro anos antes do AVC, mas pouco se importou. O resultado foi a paralisação parcial do lado esquerdo do corpo.

 

Mais de 13 anos depois, Inaldo relembra cada detalhe do que passou: a dependência da família e a necessidade de se aposentar devido às limitações físicas em razão das sequelas do AVC, que por pouco não tirou sua vida por completo.

“Foi ruim, eu não posso dizer que foi bom não, foi ruim. A minha mulher me ajudou muito, se era pra ir no banheiro precisava dela. Pra tudo, pra tudo. Tinha vezes que eu tentava me levantar e caía. Eu pensando que eu me levantava, e caía. Eu digo: ‘se eu me levantar, eu vou andar bem ligeiro pra ver se…’. O meu pensamento era esse, mas o AVC não é brincadeira”, relatou. 

Predador silencioso x informação

Segunda doença que mais mata brasileiros e a principal causa de incapacidade no mundo, o Acidente Vascular Cerebral, também conhecido como AVC, é caracterizado pelo surgimento de um déficit neurológico súbito causado por um problema nos vasos – artérias ou veias, do cérebro. 

Em Sergipe, ele causou 223 mortes em 2023, segundo dados do DataSUS. No mesmo período, 1.591 pacientes foram internados para tratar AVC no Hospital de Urgências de Sergipe (Huse), referência para o tratamento de pessoas acometidas com o quadro.


Apesar da redução no número de óbitos verificados no estado nos últimos anos, a neurologista Larissy Lima, que atua no Huse, alerta para o fato de que os casos de AVC no Brasil podem estar subestimados, já que as estatísticas refletem apenas os pacientes internados com diagnóstico confirmado. 

“Talvez falhamos em educar a população de forma eficaz sobre os sinais e riscos do AVC”, admitiu, ressaltando que alguns pacientes acreditam que os sintomas são insignificantes e acabam procurando apenas atendimento ambulatorial, fora do radar das estatísticas.

Em contrapartida, um dado destacado pela médica é que 90% desses casos podem ser evitados. Em suas palavras, o AVC se manifesta, principalmente, em pessoas que convivem com os fatores de risco em situação de descontrole.

“A gente chama de fatores de risco cardiovasculares, porque, no geral, são os mesmos fatores de risco que a gente tem para infarto agudo do miocárdio. Então o principal disparado é a hipertensão arterial, que a gente conhece popularmente como pressão alta, depois vem o diabetes, o colesterol alto, a dislipidemia, o sedentarismo, a falta de atividade física, o hábito de fumar e o hábito de consumir bebidas alcoólicas em excesso”, explicou. 

Neurologista destaca a necessidade de conscientizar sobre promoção em saúde e controlar fatores de risco para atenuar casos de AVC | Foto: Larissa Gaudêncio

A história de Inaldo corrobora esse cenário. Em seu relato, descreveu alguns dos sinais mais comuns do AVC, como também seu modus operandi: silencioso, ataca de forma repentina. E para combater o perigo que não fala, a informação é a melhor arma, especialmente quando o objetivo é minimizar sequelas motoras e cognitivas.

O primeiro passo é entender as condições que levam a um AVC. Existem dois tipos, decorrentes de dois motivos diferentes: o AVC isquêmico, mais comum, ocorre quando há obstrução de uma artéria; e o AVC hemorrágico, geralmente mais grave, é verificado quando há o rompimento de um vaso sanguíneo no cérebro, levando a um sangramento. 

Mas apesar da gravidade com a qual acomete a vida de diversos cidadãos, os sinais do AVC não são facilmente reconhecidos e, além disso, variam de pessoa para pessoa. Por isso, Larissy Lima dá a dica de lembrar da palavra SAMU. As três primeiras letras representam ações que a maioria das pessoas sente dificuldade em realizar se sofre um acidente vascular cerebral; a última indica o que fazer caso isso aconteça. 

 

“Então a gente pede para a pessoa sorrir, abraçar e cantar uma música, e se ela apresentar dificuldade em alguma dessas atividades, é necessário procurar um atendimento médico de urgência”, afirmou. 

A partir da chegada da pessoa acometida por um AVC em um hospital adequado, começa a maratona dos profissionais de saúde para fornecer o atendimento cabível, ampliando as chances de recuperação. 

De acordo com a neurologista Larissy Lima, após a identificação de sintomas, o paciente é submetido a uma tomografia, exame de imagem que possibilita identificar o tipo de AVC que está ocorrendo, direcionando o braço de tratamento que deve ser empenhado.

“O tratamento do AVC hemorrágico vai ser o controle da pressão arterial. No caso do AVC isquêmico, a nossa prioridade é reverter sintomas enquanto o paciente está no período que a gente chama de ‘janela’, abaixo de quatro horas e meia”, detalhou. 

O respeito à internação do paciente dentro dessa janela temporal para a minimização de sequelas é um dos pontos de consenso entre os neurologistas. Durante as primeiras quatro horas e meia desde o aparecimento dos sintomas, os profissionais podem administrar um remédio que diminui os efeitos do AVC, no caso isquêmico. 

“Nas primeiras quatro horas e meia, a gente tem a possibilidade de oferecer um tratamento para reversão desses sintomas, que é a trombólise venosa. É muito diferente você fazer esse tratamento nos primeiros 90 minutos do que você fazer nos últimos 30 minutos para fechar a janela. Quanto mais cedo esse tratamento for aplicado, melhores são as chances do paciente”, acrescentou Larissy. 

Conforme a profissional, de forma simplificada, o medicamento atua para dissolver a obstrução que acomete o vaso sanguíneo para permitir que o sangue volte a fluir. Em Sergipe, o único local onde é feita a aplicação da trombólise é o Huse, para onde são encaminhados os pacientes que sofrem o acidente vascular cerebral. 

Já nos casos de pacientes que sofrem AVCs mais graves ou incapacitantes, em que a obstrução está localizada em um vaso sanguíneo maior, por exemplo, a neurologista cita a possibilidade de realizar o procedimento chamado trombectomia mecânica. 

“É como se fosse um cateterismo que, ao invés de ser direcionado para o coração, é direcionado para o cérebro, então é realizada uma localização dessa obstrução vascular e eles utilizam algumas técnicas para retirar mecanicamente esse trombo, então é um tratamento que não só reverte sintomas como também salva vidas, e ele está em processo de incorporação ao SUS”, complementou. 

A realização dos dois movimentos, no entanto, depende da conscientização coletiva sobre a importância do reconhecimento precoce dos sinais e da busca por atendimento imediato.

 

Pensando nesta necessidade de um atendimento rápido e eficaz, sobretudo dentro da janela mínima temporal, a professora Dra. Rita Vieira, docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe no Campus Lagarto e líder do Grupo de Estudos em Neurotrauma e Neurointensivismo (Geneuro -UFS), coordenou um estudo no Hospital de Urgências de Sergipe (Huse) entre os anos de 2022 e 2024, com o objetivo de verificar os fatores associados à mortalidade dos pacientes com diagnóstico de AVC. A pesquisa revelou que pouco menos da metade dos pacientes com AVC isquêmico deu entrada na unidade dentro da janela de tempo de quatro horas e meia.

“Se o usuário do SUS apresenta qualquer suspeita de AVC em nosso estado, na maioria dos casos, ele é inicialmente atendido na unidade de origem (UPA) e, posteriormente, encaminhado ao HUSE. Os resultados mostraram que, dos 91 pacientes com diagnóstico de AVC isquêmico, apenas 39 chegaram dentro da janela de tempo para realizar o tratamento com trombolítico. Destes, somente 20 receberam o tratamento. Um dado alarmante foi que, do total de 255 pacientes com AVC isquêmico admitidos no HUSE durante o período de coleta, 241 chegaram após o intervalo de 4 horas e meia”, detalhou.

Especialista detalha como o tempo é importante para o tratamento mais eficaz do AVC | Fotos: Matheus Costa

Nesse sentido, a prof. Dra. Rita Vieira alerta para a necessidade de difusão do conhecimento sobre os diversos sintomas do acidente vascular cerebral e os locais para procurar atendimento, reforçando que estas informações podem auxiliar na rápida procura pela unidade especializada.

“A gente precisa orientar tanto a população quanto os familiares sobre quais são os sinais e onde ele deve procurar. Então a gente elaborou uma cartilha para as famílias, orientou e explicou o que acontece com o paciente depois que ele tem alta e  para onde ele deve ser encaminhado. A questão de orientação mesmo porque às vezes ele, o familiar, quando sai do hospital, ele se sente um pouco órfão, desamparado, não sabe o que acontece, então a gente fazia esse acolhimento com a família: ‘olha se ele sentir qualquer sintoma, você procura a unidade, você procura o hospital, venha fazer o seguimento. Não tem medicamento, entre em contato com a unidade básica’”, reforçou.

As sequelas e conscientização

Hoje, Inaldo comemora a evolução que teve após anos de tratamento com uma equipe multidisciplinar composta por neurologista, cardiologista e fisioterapeutas. Para isso, o aposentado mudou seus hábitos e passou a prezar pelo autocuidado.

“Até hoje eu tô com essa sequela, mas eu tô com essa sequela porque eu persisto. Se eu não persistisse, eu tinha morrido. Parei definitivamente, o último dia que eu botei uma dose de cachaça na minha boca foi no dia 28 de agosto de 2011. E hoje não me falta, não. Hoje é que eu vejo como eu ganhei com isso, em respeitar os horários do remédio. O corpo da gente é muito bem feito, a gente tem que saber respeitar”, disse ele.

Da experiência negativa, tirou a importância de ir ao médico de forma regular, principalmente para aferir a pressão e controlar a hipertensão, um dos grandes fatores de risco do AVC. Ele também exaltou  a importância da atividade física e da fisioterapia em sua recuperação.

“Fazia fisioterapia direto, aí depois, quando me aposentei, comecei a fazer em casa. Comprei os equipamentos que usava lá na fisioterapia e  trouxe para dentro de casa, eu faço em casa, faço meus exercícios. Agora, de vez em quando, eu vou ao médico para ver. Eu tenho meu aparelho de pressão, porque eu acompanho aqui em casa. Depois que passei a tomar meu remédio certinho orientado por um médico, é 12  por 8, 11 por 8, é pressão de criança”, comemorou.

Ativo como sempre foi, buscou um modo de não ficar parado. No fundo de sua casa, no distrito industrial de Aracaju, capital sergipana, o ex-mecânico tem uma espécie de oficina, onde guarda ferramentas que usa para consertar objetos em casa ou até mesmo para construir outras. Para ele, esse espaço serve para deixá-lo ativo, mas também representa sua força mental contra um corpo limitado.

Mesmo com as limitações, Inaldo não deixou de manusear ferramentas e está sempre ativo | Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

“Quando eu ‘tô’ lá na minha oficina que eu começo a inventar as coisas aí o mundo tá só ali na invenção, eu esqueço tudo. Quando eu ‘tô’ aqui na televisão assistindo alguma coisa que eu vejo que não é construtiva o que eu recebi na televisão, não é coisa boa, principalmente AVC, eu vou para o meu quintal,  aí uso a minha oficina que eu inventei para ocupar minha mente e fazer meus exercícios lá”, expressa.

O cuidado pós-AVC, também mudou a vida de Paulo César. Padre oriundo da Diocese de Propriá, a 100 km da capital sergipana, conseguiu tocar sua vocação após se dedicar ao processo de reversão das sequelas. Foi há quase três anos, no dia 2 de janeiro de 2022, que percebeu os sinais e recebeu o diagnóstico.

Internado inicialmente em Propriá, foi transferido para o Huse, em Aracaju, e posteriormente a um hospital particular, onde finalizou seu tratamento. Após a situação, se mudou para a capital sergipana, onde tem condições de continuar sua missão junto à Igreja Católica, ao passo em que mantém os cuidados com a saúde. 

Oriundo da Diocese de Propriá, Paulo César se mudou para Aracaju, onde continua o tratamento em paralelo às celebrações | Fotos: Larissa Gaudêncio

“A gente precisa entender que quando a gente tem AVC, e principalmente quando ficamos com sequelas, o nosso tratamento é para o resto da vida. Eu preciso fazer fisioterapia constantemente, eu preciso fazer atividades físicas, eu preciso cuidar da minha alimentação. Nós precisamos prestar mais atenção nos sinais do nosso corpo. Ele fala, o nosso corpo fala e a gente precisa cuidar da gente”, afirmou. 

Em seu caso, um fator de risco também corroborou para que viesse a ser acometido pelo AVC. Meses antes do fatídico dia, foi ao cardiologista e recebeu a informação de que estava com a pressão alta ou, em outras palavras, hipertenso. 

“Ele me passou alguns medicamentos, me orientou a fazer uma dieta, a fazer atividades físicas. Porém, o relaxamento foi mais forte. Eu, preocupado mais com minhas atividades, acabei negligenciando a minha saúde. Havia momentos em que eu fazia exercícios, outros não. A minha dieta não era bem respeitada porque eu comia em horários diferentes, não tinha uma disciplina e o remédio também às vezes eu acabava esquecendo”, reconheceu. 

Desde que recebeu alta, o padre ficou imerso em um estado de alerta contínuo. Hoje, na Capela Nossa Senhora Desatadora dos Nós, no bairro Orlando Dantas, em Aracaju, faz celebrações recorrentes. Ele ressalta que isso só é possível porque aprendeu a encarar sua “nova vida”, que possui algumas limitações e deveres. 

Um deles, conta, é manter a saúde física, mental e espiritual. Para isso, não negligencia mais o suporte profissional. 

“Eu precisei me reconstruir, e principalmente mentalmente. Então, além de neurologista, cardiologista, todos os profissionais que são necessários, eu precisei de um psiquiatra, porque meu nível de ansiedade estava muito alto, e também de psicólogo. A fé nos ajuda, o apoio dos amigos ajuda, a igreja, quem participa de alguma igreja, é você não desanimar, porque o processo é lento”, completou.

Fisioterapeuta neurofuncional, Elisvania Barroso é uma profissional que atua no cuidado de pessoas que, como Inaldo e Paulo César, buscam restabelecer suas atividades funcionais após um quadro de AVC. Ela ressalta a importância de traçar objetivos com o paciente para a planejar a abordagem terapêutica específica que entrará em ação.

“O primeiro pensamento é: quem é esse paciente? Depois: o que ele fazia? o que ele gostaria de voltar a fazer? o que a sequela deixada pelo AVC impediu ele de fazer? […] A avaliação neurológica vai me dar esse respaldo, e aí eu acabo construindo os outros objetivos que vão me dar suporte para chegar no meu objetivo principal, que é devolver funcionalidade através de atividades laborais para esse paciente. Depois que eu determinei o meu objetivo principal, eu vou, sim, pensar em objetivos como devolver força, devolver percepção corporal, restabelecer o equilíbrio, melhorar a marcha, estimular sensibilidade, e aí vai depender da avaliação de cada paciente”, explicou.

Segundo a especialista, a terapia neurofuncional para pacientes com sequelas de  AVC envolve uma série de avaliações e testes que fornecem uma visão detalhada de suas condições físicas, assim como dados objetivos que ajudam na definição de metas terapêuticas e reavaliações periódicas.

Entre esses testes, Elisvania destaca a realização de manobras deficitárias para avaliação de força muscular, instrumentos para avaliação da sensibilidade e condicionamento físico. Todos eles, enfatiza, apresentam uma nota final, que é essencial para a reavaliação do paciente e para acompanhar a evolução do tratamento.

“Periodicamente, eu posso reavaliar esse paciente com os mesmos testes que eu fiz  numa avaliação inicial e dar uma devolutiva para ele, com algo mais palpável, ou seja, não só a partir das evoluções das atividades funcionais. Por exemplo, ele [paciente] vê que no teste de força muscular subjetivo tinha força grau 3, e hoje ele já tem força grau 4. Isso me dá um suporte maior na minha devolutiva para o meu paciente”, expressou.


Fisioterapeuta ocupacional, Elisvania Barroso lembra história de pacientes que marcaram sua trajetória

Fisioterapeuta neurofuncional, Elisvania Barroso lembra a história de pacientes que marcaram sua trajetória | Fotos: Reprodução/Arquivo pessoal

As inovações na prevenção

Diversos estudos sobre o AVC visam reduzir os impactos da doença através de mecanismos que possibilitem a identificação de possíveis sintomas de forma precoce. No Brasil, pesquisadores desenvolveram de forma inédita nos últimos anos a tecnologia do Brain4Care, um dispositivo que mede a pressão intracraniana sem a necessidade de cateter.

Ferramenta que mede pressão do crânio foi desenvolvida de forma inédita no Brasil | Fotos: Divulgação/Brain4Care

“Ela é composta de uma tira, um tirante de silicone com um sensor. Você coloca na cabeça do paciente e você identifica o quanto o cérebro teve de complacência naquele determinado momento”, detalhou Rita Vieira.

Segundo a pesquisadora, o uso da ferramenta que foi implantada recentemente no Brasil nos principais centros do país pode indicar o estado de saúde do paciente e guiar os profissionais sobre quais medidas tomar em relação ao tratamento. Em Sergipe, ainda não há aplicação definitiva, apenas estudos, conduzido pela própria pesquisadora no Hospital de Urgências de Sergipe para avaliar a pressão intracraniana nos pacientes com AVC.

Não há uma precisão de quanto tempo o Brain4care precisa ficar na cabeça do paciente, por conta do comportamento distinto da doença nas primeiras horas. A Dra. Rita Vieira considera a tecnologia bastante inovadora, porém prega cautela. O uso da ferramenta auxilia na aferição da pressão intracraniana, mas segundo ela, não substitui o uso de outras tecnologias já aplicadas no diagnóstico  do AVC. 

“Ela é primordial para você traçar o diagnóstico ou pelo menos saber o que esse paciente tem? Não. Ele precisa ir para o centro de referência, ele precisa ir para o Huse, ele precisa fazer uma tomografia para a gente saber se o AVC é isquêmico ou hemorrágico, porque a trombólise eu só dou no AVC isquêmico. No AVC hemorrágico, que é o sangue na cabeça, aneurisma já rompido, o vaso já rompido, aí eu preciso passar por um procedimento cirúrgico. Mas o Brain4care não consegue diagnosticar se é isquêmico ou se é hemorrágico, somente atualmente a tomografia computadorizada, que é o exame padrão ouro, que é o mais acessível“, explicou.

No estudo desenvolvido em Sergipe, o objetivo é levar o Brain4care para as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) sem a tomografia disponível, para assim ser feito um atendimento mais eficaz nas primeiras horas do AVC.

“A porta de entrada do paciente de AVC é a UPA, é a unidade de pronto atendimento, principalmente nos hospitais mais distantes, e aí posteriormente ele é regulado para um centro de referência, que no caso do AVC é o Huse. E aí, se a gente tiver essa monitorização no centro mais remoto, como Poço Verde, Canindé de São Francisco, Estância [municípios do interior sergipano], a gente consegue trazer o paciente para Huse mais precocemente, respeitando aquela janela de quatro horas e meia”, afirmou. 

A prof. Dra. Rita Vieira comemora o avanço das tecnologias multimodais não invasivas, como a do Brain4care, e aponta que a recuperação é muito mais eficaz. 

“A não aplicação de um instrumento, de um tratamento invasivo no paciente e um tratamento, muitas vezes à beira do leito, que é a multimodal não invasiva, vai reduzir o tempo para início de tratamento desses pacientes. Então você vai conseguir identificar precocemente quando esse cérebro está em sinais de sofrimento e aí você vai poder utilizar o tratamento mais adequado”, acrescentou. 

Fato é que todas as inovações visam o avanço na identificação de sintomas, e sobretudo, a oferta de tratamentos menos doloridos, que possibilitem a recuperação mais eficiente dos acometidos pelo AVC. As histórias de Inaldo e Paulo César revelam que, com o auxílio necessário, a força de vontade e o acompanhamento médico, a vida é totalmente possível após um AVC.

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