Pela primeira vez, religiões de matriz afro-brasileira têm a perspectiva de participar da celebração do aniversário de Aracaju, comemorado no dia 17 de março. Atualmente, denominações de origem cristã já integram a programação de shows e eventos em alusão à capital sergipana.

Um pontapé inicial para ampliar as comemorações foi dado em dezembro do ano passado. Um projeto de lei de autoria do Prof. Bittencourt, cujo objetivo é incluir as religiões de matriz afro-brasileira em ações culturais na “Semana Cidade de Aracaju”, foi aprovado na Câmara de Vereadores.

Para Ilzver Matos, professor de Direito da Universidade Federal de Sergipe e candomblecista, a lei reflete a garantia do direito das religiões de matriz afro-brasileira, tão representativas da cidade quanto outras vertentes. 

“É uma luta histórica, a luta pela repartição dos mesmos privilégios que o estado dá às demais denominações religiosas cristãs. No final do ano passado, através de uma propositura do vereador Antônio Bittencourt, foi aprovada uma lei que cria a semana do aniversário de Aracaju, e se insere também os povos de terreiro de matriz africana nessa comemoração, por serem, dentro do nosso território, as religiões tradicionais que representam os povos vindo de África”, explicou. 

Uma das principais ações pensadas para este ano, segundo Ilzver, é a Alvorada dos Ojás, um ato político-religioso que acontece entre a noite do dia 22 e a manhã do dia 23 de março. 

“Os ojás são os tecidos brancos que, comumente, envolvem as cabeças e os corpos dos adeptos das religiões de matriz africana. Neste ato, o nosso objetivo é abraçar a cidade de Aracaju, especialmente, as árvores de Aracaju, que para nós representam elementos sagrados, com laços brancos que irão enfeitar, que irão adornar a cidade de Aracaju neste abraço, em nome do respeito, da paz, contra a intolerância religiosa e o racismo religioso”, completou.

Ainda de acordo com o professor, apesar de a lei ter sido aprovada no final de 2023, houve um atraso na destinação dos recursos necessários para a realização das manifestações de matriz afro-brasileira. Ele conta que, por isso, as ações pensadas para este ano tiveram de ser reduzidas.

“A gente sabe muito bem que a nossa vida de povo de terreiro de matriz africana nunca foi fácil. A gente teve que primeiro lutar por uma lei, e agora a gente está lutando para que essa lei seja aplicada como é muito comum nesses aspectos do nosso cotidiano quando envolve certos grupos”, disse ele. 

A alvorada está sendo organizada por entidades como o Centro Cultural Erukerê, Ilê Axé Ojú Ifá Ni Sahara, Abassá Pilão de Oxaguian e a Comissão de Liberdade Religiosa da OAB. Na oportunidade, o professor Ilzver também fez um chamado para que outros terreiros da capital  possam participar da celebração. 

“A gente conseguiu congregar algumas casas de terreiro da nossa cidade. O mandato do vereador Bittencourt fica na rua Siriri, e é um espaço onde os terreiros podem ir para se colocar à disposição para compor essa organização da Alvorada dos Ojás, que ocorrerá da noite do dia 22 para a manhã do dia 23. A cidade amanhecerá enfeitada, adornada com os nossos tecidos de matriz africana, consagrados, como se deve”, finalizou.

Resposta

Em referência ao citado atraso na destinação dos recursos da emenda, o Portal Fan F1 entrou em contato com a Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju), gestora da verba, para solicitar esclarecimentos.

De acordo com a pasta, a definição do uso dos recursos e a elaboração do plano de trabalho só foram feitos há uma semana, juntamente com a assessoria do vereador e as entidades destinatárias da emenda.

“Diferente das demais emendas de vereadores, que se referem à contratação de artistas ou de estrutura para espetáculos, cujos valores constam nas atas da Prefeitura, essa dispõe sobre a compra de material de ornamentação para a celebração proposta pelas entidades de matriz africana. No momento, a Funcaju está buscando os orçamentos para realizar a compra do material e entregar aos beneficiários dentro do prazo devido”, foi exposto em nota.