Política

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Voto de cabresto: do passado ao presente, ainda que de forma disfarçada

Por Wesley Araújo

03/12/2023


O termo “voto de cabresto” é uma expressão carregada de significado na história política do Brasil. Essa prática ganhou notoriedade durante a República Velha, sendo associada à manipulação e controle dos eleitores por parte das elites políticas, principalmente na Região Nordeste do país.

De forma prática, o voto de cabresto ocorria quando os latifundiários exerciam influência direta sobre os seus trabalhadores rurais. Por meio do controle econômico e social, esses líderes locais garantiam o voto de seus subordinados, criando uma relação de dependência política. Esse fenômeno caracterizado pelo domínio de poderosos líderes locais, conhecidos como “coronéis”, se tornou uma marca registrada da política brasileira. Os coronéis utilizavam uma combinação de coerção, favores e paternalismo para manter o controle sobre suas bases eleitorais.

As consequências do voto de cabresto foram profundas e duradouras. A submissão dos eleitores às vontades dos coronéis, minava os princípios democráticos, limitando a representatividade e a participação política da população. Além disso, perpetuava desigualdades sociais, uma vez que os interesses das elites prevaleciam sobre as necessidades e demandas das camadas mais vulneráveis da sociedade.

De modo geral, podemos dizer que essa fase de opressão e de massiva desigualdade da população foi superada, entretanto, infelizmente, essa forma de fazer política ainda perdura nos rincões do nosso país. Esse período da nossa história ficou imortalizado na obra “Coronelismo, Enxada e Voto”, livro escrito por Victor Nunes Leal, publicado em 1948, que descreve com riqueza de detalhes como o processo eleitoral, principalmente as eleições municipais, eram impactadas pelas ações de distribuição de favores e proteção por parte dos líderes locais.

Embora o voto de cabresto tenha perdido a influência direta que uma vez exerceu, suas raízes ainda podem ser identificadas em alguns aspectos da política brasileira contemporânea. A persistência de suas práticas continua viva, sejam pelo viés clientelista impresso nos programas de distribuição de renda, ou pelo uso da força, no assédio eleitoral de funcionários, conduta que, infelizmente, tem voltado a ocorrer. Não se pode esquecer também, que a baixa participação da mulher na política decorre desse momento da história, onde a figura paterna dominava a família e relegava as mulheres somente às atividades domésticas.

Assim sendo, o voto de cabresto foi um fenômeno que marcou profundamente uma fase política do Brasil, deixando uma marca de desigualdade e limitação da participação democrática. Compreender suas origens e consequências é essencial para avaliar os desafios enfrentados pela democracia brasileira ao longo dos anos e para promover reformas políticas que fortaleçam a representatividade e a participação cidadã no cenário político atual.

Por Wesley Araújo, advogado especialista em Direito Eleitoral

Foto: Izanio Charges

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