Orla Sul: comunidade alega negligência nas obras e governo nega erro

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Na manhã desta sexta-feira, 30, o Jornal da Fan veiculou os desdobramentos do problema vivido pelos moradores do Mosqueiro e Zona de Expansão de Aracaju, devido a uma cratera que se abriu e tomou conta de praticamente metade da pista de um trecho da Rodovia Inácio Barbosa, na região da Orla Sul, obra que foi concluída e entregue à sociedade sergipana em novembro do ano passado.

O que começou com uma pequena rachadura provocada pelas chuvas de segunda-feira, que fez parte da ciclovia ceder e ruir, ganhou proporções muito maiores no decorrer da semana. O problema, que se limitava apenas a um pequeno trecho da ciclovia, se alastrou para o passeio e, posteriormente, para a pista, causando a abertura de um enorme buraco que fez com que a avenida tivesse que ser interditada para a passagem de veículos.

Além do problema em si, provocado pelo grande e intenso volume de água que passa por um extravasor ali instalado (também chamado de vala de escoamento), o que destruiu as manilhas de condução e fez com que o solo cedesse, os moradores da localidade reclamam da falta de sinalização de advertência, o que coloca motoristas, ciclistas e pedestres em risco, sobretudo à noite, visto que a iluminação daquela região é deficiente.

O Jornal da Fan entrevistou Karina Drummond, do Conselho das Associações de Moradores dos Bairros Aeroporto e Zona de Expansão de Aracaju (Combaze), que afirmou que o problema já era previsto e, juntamente com outros moradores, também acusam o Governo do Estado de negligência.

“Desde o ano de 2021 alertamos ao Ministério Público Estadual, quando começaram as tratativas referente à obra da Orla Sul, sobre a nossa preocupação em relação aos sistemas de drenagem e macrodrenagem de toda essa obra, pois, tanto as caixas de infiltração da rodovia, quanto algumas valas de escoamento, ou extravasores [e uma das valas é justamente essa, do buraco], foram fechadas. Isso fez com que a obra da Orla Sul trouxesse uma barragem ao escoamento natural daqui da Zona de Expansão”, disse Drummond.

A representante dos moradores também disse que, além do alerta ao MP-SE, também foi realizado um estudo técnico, foram apresentadas fotos aéreas da região com o registro dos pontos específicos onde estão localizados os extravasores. Ela também informou que a procuradora federal nomeou um grupo de trabalho com representantes de cada uma das obras da Orla Sul e ainda foi realizada uma inspeção técnica, que constatou que alguns pontos específicos precisariam de uma atenção especial e que deveriam ser feitas certas intervenções pontuais. Segundo Karina Drummond, as interferências apontadas não foram realizadas.

“Nada dessas obras foi realizado. Por volta do dia 10 de junho, a diretoria do Combaze contatou o Ministério Público Federal, solicitando uma audiência, pois a gente já alertava que, neste ponto, que cedeu, era questão de dias para vir a romper, pois o volume de água era nítido e já tínhamos pessoas desalojadas na comunidade. Conseguimos essa audiência para o dia 13 de junho e relatamos toda essa situação, que foi registrada em ata. Infelizmente, veio a ocorrer tudo aquilo sobre que tínhamos alertado. O que está acontecendo é um barramento, pois a rodovia contribui para o não escoamento das águas pluviais da região”, disse Karina.

Karina Drummond também refutou a tese oficial da Sedurbi, de que extravasores foram fechados por orientação do Ministério Público, para evitar barretas na praia. “Nesta audiência [do dia 13 de junho], comunicamos, informamos e comprovamos que não existe esse pleito, nem por parte do Combaze e nem foi registrado em nenhuma decisão judicial. O alerta foi feito no dia 13, a situação foi piorando e nenhuma providência foi tomada. Infelizmente, pagaram para ver”, disse.

O Secretário de Desenvolvimento Urbano e Infraestrutura, Luiz Roberto Dantas de Santana, disse que o fechamento dos extravasores foi um equívoco e insistiu na tese de que o fechamento foi, sim, determinado pelo Ministério Público.

“A orientação de fechar os extravasores foi do Ministério Público Federal, entendendo que haveria poluição do Oceano Atlântico, a partir do momento que as águas dessas lagoas de retenção fossem drenadas para o mar. Em todos os momentos foi dito isso por mim, que foi um equívoco o fechamento dos extravasores, porque a única saída das lagoas de retenção da região do lado esquerdo, indo para o Mosqueiro, era a saída para o mar. Fecharam os extravasores, as lagoas continuaram recebendo água, a quadra chuvosa foi intensa nos meses de maio e junho deste ano, as lagoas subiram de nível e chegou a um ponto que, em algum momento, se continuasse a chuva intensa, a água passaria por cima da rodovia Inácio Barbosa e poderia ter levado a rodovia, como aconteceu em 2010. Karina Drummond alegar que o sistema de drenagem da rodovia feito pela obra está equivocado, equivocada está ela”, disparou o secretário.

Luiz Roberto ainda ressaltou que o sistema de drenagem da rodovia funciona e é eficiente, mas que a falta dos extravasores, associada à falta de sistemas de drenagem eficientes dos muitos empreendimentos imobiliários construídos na região, ao crescimento desordenado da Zona de expansão e o aumento pluviométrico em Sergipe, contribuem para que a situação chegasse ao ponto que chegou.

“O sistema de drenagem é um sistema de duto perfurado, coberto por tela, que atua por absorção. Todo o sistema de absorção foi feito para a areia e o sistema funciona. Circule a Inácio Barbosa toda, se encontrar uma poça d´água aí, pode dizer aos ouvintes que eu estou equivocado. O fechamento do extravasor foi, justamente, por conta da possibilidade de poluição. Foi um erro fechar os extravasores. Ninguém aqui é negligente. É um adjetivo colocado de forma equivocada. O sistema de drenagem da rodovia funciona, e funciona muito bem, agora, a retenção das águas da lagoa aconteceu porque a água não tem para onde sair. Em 2010 aconteceu, na frente do Condomínio Praias do Sul e justamente porque fecharam extravasor. Naquele período os órgãos públicos abriram os extravasores, inclusive, teve uma ação civil contra o Departamento Estadual de Infraestrutura Rodoviária de Sergipe (DER), o DER foi condenado e teve ação criminal contra gestores do Der porque abriram extravasor. Já solicitei à Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), que hoje vai fazer a análise da água e o acompanhamento da balneabilidade para verificar se pode continuar o dreno, tanto que nós deixamos aberto e baixou o nível da lagoa”, disse Luiz Roberto, que ratificou que os extravasores foram fechados por conta do entendimento que eles representavam um risco de contaminação ambiental”, disse o secretário.

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