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Após 10 anos, assassinato da radialista Lana Micol segue impune

Da redação

26/05/2023


Há exatos dez anos, a radialista Lana Micol Cirino Fonseca, então coordenadora da Rádio Nacional do Alto Solimões, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), foi assassinada em frente à casa do companheiro, o sargento Alan Bonfim Barros, em Tabatinga, no Amazonas. A cidade fica na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia. Lana tinha 30 anos de idade e foi enterrada em Manaus.

Para os familiares da radialista, o que ficou foram os sentimentos de revolta diante da incompetência e da falta de disposição da polícia para solucionar o caso, marcado, como tantos outros pelo Brasil, pela banalização das agressões e da morte violenta que vitimam mulheres. “Eu falei para o delegado: doutor, e aí, você não tem nada a me dizer sobre a minha irmã? Ele: depois que mataram sua irmã, mataram dez. Eu falei: tomara que a décima primeira não seja sua parente”, desabafou a instrutora de direção de veículos, Lia Rebeca Cirino Fonseca, irmã de Lana.

Relembre o caso

No momento do crime, o casal e a filha mais nova da comunicadora, de 7 anos, tomavam banho de piscina, diante do portão da residência. Dois homens chegaram em uma motocicleta e efetuaram os disparos. Lana foi atingida várias vezes.

Ela foi levada ao Hospital de Guarnição de Tabatinga pelo namorado, mas não resistiu aos ferimentos. Além da menina, deixou outro filho, de 11 anos. Este ano, eles completam 17 e 21 anos, respectivamente.

Até os meses de fevereiro e março deste ano, o caso praticamente não evoluiu na Justiça. Conforme relataram Lia e o pai de Lana, o dono de autoescola Antônio Moisés Fonseca, não houve nenhuma novidade na esfera judicial. O conjunto de provas, na avaliação do magistrado responsável, era insuficiente para incriminar e condenar o ex-marido da vítima, Edimar Ribeiro, à devida pena.

Edimar foi apontado como o mandante do crime e chegou a ficar detido preventivamente por 90 dias, mas conseguiu o direito de aguardar o julgamento em liberdade. A polícia precisaria refinar a investigação e apurar melhor os indícios e provas para elucidar o que aconteceu.

“O juiz devolveu o processo para a polícia. Disse que estava incompleto e não tinha condição. Eu fui lá falar com o juiz e ele disse: não posso fazer nada, está incompleto”, disse Fonseca.

Lana já havia reagido às ameaças que recebeu de Edimar. Formalizou queixa à polícia, conseguiu uma medida protetiva contra o ex-marido, o que permitiu que tivesse relativa guarida. Por outro lado, não garantiu o fim das ameaças, até meses antes de seu assassinato. Ele a agrediu enquanto eram casados, conforme ela mesma e parentes denunciaram às autoridades.

Desdobramentos

A atmosfera de mistério que permeia o caso permanece até hoje, já que houve ainda um segundo fato que chamou a atenção dos familiares da radialista e de todos que o continuaram acompanhando: Edimar também foi assassinado por pistoleiros, quase sete anos depois da morte da ex-mulher, em 2 de março de 2020, durante um assalto em Tabatinga. Segundo o pai de Lana, um dos homens que teriam participado da execução também foi morto, o que aumenta as indagações sobre as circunstâncias do homicídio da radialista.

“O que não mataram foi o que dirigiu a motocicleta”, ressaltou o pai de Lana, sinalizando que se sabe a autoria do crime, embora não tenha havido desfecho.

“A gente escuta várias histórias sobre o caso”, disse Lia. “Na verdade, é o que eu falei para a imprensa: aqui em Tabatinga, o pessoal é cego, mudo e surdo. Todo mundo sabe de tudo, mas ninguém vê, ninguém fala, ninguém escuta nada”, emendou ela, em relação à impunidade.

Familiares de Lana revelaram uma atualização, em relação ao contexto da época: o namorado dela, Alan Bonfim Barros, passou a ficar sob sua suspeita por conta do comportamento que adotou após a morte da radialista. A família de Lana reparava no comportamento “duvidoso” do sargento, que não parecia alguém que acabava de se perder um grande amor, e sim um homem preocupado em garantir que ficaria com os bens da companheira recém-falecida.

Outra hipótese sobre o assassinato, que não diz respeito a feminicídio, é a de que Lana teria incomodado poderosos da região, devido às coberturas que fazia, que envolviam denúncias de crimes, e ao espaço que dava a povos indígenas. A primeira delegada que assumiu o caso, Fernanda Cavalcante da Costa, descartava essa possibilidade. A motivação seria outra, para ela, que entendia que Lana era uma figura querida na comunidade e que não teria provocado ninguém nesse contexto.

Em Atalaia do Norte, Tabatinga e Benjamin Constant, um aspecto que chama a atenção é a estrutura de serviços públicos disponíveis tanto para apuração como para julgamento dos crimes de Tabatinga e entorno. A rotatividade de magistrados é algo que provoca lentidão na tramitação de processos.

Homenagens

Nesta sexta-feira ,26, a programação da Rádio Nacional do Alto Solimões (96,1 FM), Nacional da Amazônia (OC 11.780KHz, 6.180KHz) e Nacional de Brasília (980 AM) lembrarão, ao longo da programação, os dez anos da morte de Lana Micol. Serão especiais de hora em hora, apresentados pela jornalista Mara Régia.

Fonte: Agência Brasil
Foto: Reprodução/Facebook

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