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Estudo que fundamentou uso de cloroquina para Covid-19 é invalidado por revista científica
Da redação
20/12/2024
Após quatro anos, o editor da revista científica que publicou o estudo do infectologista francês Didier Raoult sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina invalidou a indicação destes medicamentos e sua possível eficácia no tratamento contra a Covid-19.
A hidroxicloroquina e a cloroquina são medicamentos usados contra a malária e derivados sintéticos de uma mesma substância, chamada quinina.
O médico Didier Raoult sempre afirmou que a hidroxicloroquina, combinada com o antibiótico azitromicina, era eficaz contra a infecção. Um estudo sobre essa teoria, publicado em março de 2020 na revista International Journal of Antimicrobial Agents, foi assinado por 18 autores, incluindo Raoult.
No último dia 17, no entanto, a editora Elsevier retratou o artigo após uma investigação que contou com o apoio de um “especialista imparcial que atua como consultor independente em ética editorial”. A revista apontou que o estudo descumpriu várias normas e manipulou ou interpretou os resultados de forma errada.
A editora também afirmou que os autores não conseguiram justificar adequadamente suas conclusões. Ao longo dos anos, Raoult publicou diversos estudos defendendo a eficácia da hidroxicloroquina, mas muitos deles foram criticados por falhas metodológicas (como amostras pequenas e falta de grupos de controle) e éticas (como a não conformidade com as regras de pesquisa em seres humanos).
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro foi um forte defensor da cloroquina. Entre março de 2020 e janeiro de 2021, o governo tomou pelo menos quatro medidas que incentivaram o uso do medicamento, de acordo com um levantamento de pesquisadores da USP e da Conectas Direitos Humanos.
Entre essas medidas, destaca-se o protocolo do Ministério da Saúde de 20 de maio de 2020, que recomendava a cloroquina para todos os casos de Covid-19, e o aplicativo TrateCov, que sugeria o uso de cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina aos médicos, sendo retirado do ar logo depois.
Estudos científicos de grande porte, como os realizados pelos projetos britânico Recovery, francês Hycovid e pela OMS, mostraram que a cloroquina e a hidroxicloroquina não são eficazes no tratamento ou prevenção da Covid-19. Além disso, o uso desses medicamentos tem sido associado a graves efeitos colaterais, principalmente cardiovasculares.
*Com informações da Rádio França Internacional