Falando sobre o São João deste ano, uma coisa ficou clara: não tivemos aquela música do momento que domina o cenário e vira unanimidade, como costumamos ver. Ainda assim, o forró se mostrou vivo e pulsante, com várias bandas em alta, seja no forró das antigas, no piseiro ou até no arrocha, estilos que seguem se reinventando e conquistando público novo.
Mas não dá para ignorar uma questão preocupante: a falta de respeito, especialmente de parte dos artistas jovem, para com aqueles que construíram o caminho do forró ao longo dos anos. Parece que muitos estão esquecendo ou ignorando os responsáveis por tornar esse ritmo tão forte e presente na cultura nordestina. Essa postura é lamentável, pois o forró tem raízes profundas e uma história que merece ser preservada e valorizada.
A polêmica entre a cantora arapiraquense Dona Flô e a Banda Magníficos, durante o São João de Arapiraca, em Alagoas, expôs o tratamento desigual dado aos artistas locais nas grandes festas juninas. Dona Flô teve sua apresentação interrompida por uma passagem de som da atração principal, gerando frustração. Embora um integrante da Magníficos tenha feito um agradecimento público e atribuído o episódio à produção do evento, o caso revela uma prática recorrente: artistas da terra sendo tratados como meros complementos da programação. A situação reforça a crítica à lógica que valoriza o nome de fora, mas ignora quem sustenta a cultura local o ano inteiro. Essa é uma realidade enfrentada por diversos artistas locais, que abrem e fecham show, mas que, por muitas das vezes, acabam tendo que encerrar sua apresentação antes do tempo previsto, quando um artista nacional chega.
Entre os destaques, Wesley Safadão merece menção especial com o projeto “Bem-vindo ao meu mundo”. Ele trouxe de volta os clássicos do forró eletrônico dos anos 90, e conseguiu um feito significativo ao alcançar o segundo lugar no Spotify. Além disso, resgatou o repertório da vaquejada da banda Mastruz com Leite, que foi amplamente tocado nas festas, reafirmando a importância desse elo com as raízes do forró nordestino.
O romantismo seguiu forte, com bandas como Seu Desejo, Calcinha Preta, que apostou num repertório da Turnê Atemporal, e Limão com Mel mantendo seu público fiel. Porém, nem tudo foi só música e festa: Silvânia Aquino, da Calcinha Preta, acabou se envolvendo numa polêmica durante um show em Pernambuco, ela confundiu a bandeira do estado com a de um time de futebol. A confusão dividiu opiniões e serviu como um lembrete de que, além da música, a responsabilidade cultural deve estar presente.
Outro aspecto que chamou atenção foram as músicas de arrasta-pé de quadrilha, que continuam a ser um componente essencial das festas juninas, agradando a diferentes gerações e preservando essa tradição tão característica do período.
Falando de festas, Sergipe se destacou bastante. O Arraiá do Povo e o Forró Caju, em Aracaju, junto com as cidades do interior, reforçaram a imagem do título de “País do forró”. A abertura do Forró em Areia Branca recebeu elogios importantes dos forrozeiros. São Pedro de Capela, com sua Festa do Mastro, manteve sua peculiaridade e tradição, enquanto Estância, conhecida como a capital nacional do Barco de Fogo, e Lagarto, com a Festa da Mandioca, também brilharam. Itabaiana, com a Festa dos Caminhoneiros, ajudou a projetar ainda mais o nome de Natanzinho Lima no cenário.
E não dá para deixar de mencionar outras festas grandiosas no Nordeste: o São João de Campina Grande e Patos, na Paraíba; Mossoró, a cidade junina do Rio Grande do Norte, e o São João de Natal; o São João Massayó, em Maceió; e em Caruaru e Petronila, ambas no Agreste pernambucano.
Na Bahia, cidades como Amargosa, Serrinha, Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus, Senhor do Bonfim e Ibicuí tiveram festas marcantes. Salvador, com o São João do Pelourinho e eventos no Parque de Exposições, atraiu multidões. No Ceará, Fortaleza e Maracanaú também organizaram grandes celebrações. E no Maranhão, a festa continua forte, preservando a cultura local.
Entre as novidades, Henry Freitas trouxe a energia necessária para animar as festas, mostrando que o forró ainda tem espaço para novos talentos. Outra dupla que repetiu o sucesso do ano passado foi Iguinho e Lulinha.
Por fim, Flávio José, com seus 73 anos, mostrou que a tradição não perde força com o tempo. Seu carisma e experiência continuam a encantar o público e a fortalecer o gênero.
No geral, o mercado forrozeiro segue pulsante, mas é essencial lembrar de suas origens, respeitar quem construiu essa história e saber equilibrar tradição e inovação. Isso inclui dar o devido espaço e reconhecimento aos artistas locais, que muitas vezes são a alma das festas e merecem mais respeito. Afinal, o São João é isso: uma mistura do passado, presente e futuro, tudo junto num só arrasta-pé.