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Das estátuas ao asfalto: a história que se revela nas avenidas de Aracaju
Lucas Vinícius
15/01/2024
Foto: UFS/ Reprodução
Quando o trânsito se torna um simples fluxo de carros, motos e pedestres nas avenidas de Aracaju, poucos notam que, por trás de cada rua, há uma história que pulsa, que se esconde nas placas e nos nomes das vias da capital sergipana. Elas, as avenidas, são verdadeiras cápsulas do tempo, que nos conduzem, sem que percebamos, por um passeio repleto de figuras históricas que marcaram e ajudaram a construir a cidade. Nomes de pessoas que, em sua luta e visão de futuro, transformaram Aracaju na metrópole que é hoje.
O Portal Fan F1 preparou uma jornada especial para destacar como essas figuras ilustres da história sergipana viveram de forma simbólica, através das avenidas que cortam a cidade. Para isso, contamos com o olhar atento e a sabedoria do professor e historiador Wesley Guerra, que nos guiou por esse percurso repleto de relatos históricos, como um verdadeiro tour pela memória de Aracaju.
Avenida Barão de Maruim: o caminho da modernidade
No coração de Aracaju, a Avenida Barão de Maruim desponta como uma das principais artérias de acesso ao centro da cidade e ao rio Sergipe. Mas a via carrega em seu nome mais que a memória de um endereço. É uma homenagem a João Gomes de Melo, o Barão de Maruim, figura central no processo de transformação política e urbanística de Sergipe.
“João Gomes de Melo, o Barão de Maruim, foi muito mais do que um proprietário rural; ele foi um homem de negócios de grande influência, ligado a Dom Pedro II e fundamental para a mudança da capital de São Cristóvão para Aracaju”, explica o historiador Wesley Guerra. A mudança, que ocorreu em 1855, representou o impulso para a modernização do Estado, e o Barão teve papel crucial nesse processo.
“Ele exerceu grande influência sobre a elite do Vale do Cotinguiba, sendo também presidente da província após a morte de Inácio Barbosa, fundador da cidade. A mudança da capital para Aracaju foi um marco do progresso, algo que ele ajudou a materializar”, complementa Guerra, mostrando como a história dessa avenida é mais que um ponto de trânsito: é um ponto de inflexão na história de Sergipe.
Rodovia João Bebe Água: o profeta de São Cristóvão
A poucos quilômetros de Aracaju, a Rodovia João Bebe Água nos transporta para o passado, à figura mítica de João Bebe Água, um líder político de São Cristóvão que se tornou símbolo de resistência à transferência da capital sergipana. Mais do que um nome, João Bebe Água é lembrado até hoje pela sua bravura e pela profecia que, de certa forma, se concretizou: a cidade de São Cristóvão, que foi a primeira capital de Sergipe, volta a ser simbolicamente a capital por 24 horas, todo 17 de março, em um evento que rememora a mudança para Aracaju.
“Ele era um político engajado, ocupando cargos como escrivão e juiz de paz, e ficou conhecido como o ‘profeta’ por prever a volta da antiga capital à sua condição de centro administrativo”, comenta Wesley Guerra, destacando a resistência de João Bebe Água e a importância de sua figura para o fortalecimento da identidade cultural de São Cristóvão.
Avenida Governador Marcelo Déda: o legado de um líder visionário
Outro nome que ecoa fortemente em Aracaju é o de Marcelo Déda, governador que deixou um legado em áreas essenciais como saúde e educação. A Avenida Governador Marcelo Déda, mais conhecida como Perimetral, é mais do que um simples nome de uma via; ela é um tributo à trajetória política de alguém que teve impacto em toda a vida urbana da cidade.
“Marcelo Déda não apenas foi um político de relevância local, mas também nacional. Foi prefeito de Aracaju e governador de Sergipe, sempre focado em iniciativas que trouxessem qualidade de vida para o povo sergipano”, lembra o historiador. Guerra destaca também as importantes obras deixadas por Déda, como a construção de grandes vias, ciclovias e o viaduto Carvalho Déda, que até hoje fazem parte da infraestrutura moderna de Aracaju.
“Ele sempre teve uma ligação muito forte com a cultura de Sergipe. O antigo Atheneuzinho, hoje Museu da Gente Sergipana, era um espaço que simbolizava essa conexão de Marcelo com a cultura local”, acrescenta Guerra, deixando claro que o nome do governador na avenida é uma lembrança de seu compromisso com o desenvolvimento e a cultura sergipana.
Ponte Construtor João Alves Filho: um marco de progresso
Entre as muitas figuras que moldaram Sergipe, uma se destaca pela abrangência de sua atuação: João Alves Filho. Político e engenheiro, João Alves Filho é uma das personalidades mais importantes na história do Estado, sendo responsável pela construção de obras fundamentais, como a famosa Ponte Construtor João Alves Filho, que liga a capital ao município de Barra dos Coqueiros.
“Falar de João Alves Filho é falar de um homem que deixou uma marca imortal na história de Sergipe. Ele foi ministro do Interior durante o governo Sarney e, por três mandatos, governou Sergipe. Mas é especialmente lembrado pela sua atuação em projetos que impulsionaram o progresso, como a transposição do Rio São Francisco e a implementação de projetos como o ‘Chapéu de Couro'”, diz Guerra.
A Ponte Construtor João Alves Filho, como ele mesmo é chamado, é o reflexo da modernização que João Alves trouxe ao Estado, tanto na política quanto na infraestrutura. Guerra pontua ainda a ligação de João Alves com a cultura, com sua atuação na Academia Sergipana de Letras e com a produção literária, como o livro Toda a Verdade sobre a Transposição do Rio São Francisco.
O passado que vive no presente
Cada avenida, cada rodovia e cada ponte de Aracaju é uma história viva. Quando percorremos essas vias, estamos, na verdade, caminhando pelas memórias de quem lutou, acreditou e, de alguma forma, construiu a cidade que temos hoje. Por trás de cada nome, existe uma narrativa, uma trajetória de coragem, de resistência e de visionariedade, que transcende o tempo e permanece na paisagem urbana que, por sua vez, também é parte da história do estado de Sergipe.
As avenidas de Aracaju não são apenas ruas de concreto e asfalto; elas são, na verdade, estradas para o passado, que nos mostram que, ao trafegar pelo presente, estamos conectados à memória e ao legado de figuras históricas que transformaram a cidade e o estado, fazendo com que a história nunca se perca, mas se renove a cada dia.