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Sergipana nos EUA comenta promessa de Trump sobre deportação de imigrantes ilegais: “Medo generalizado”
Da redação
22/11/2024
Quando a sergipana Mara Melesky deixou Aracaju e se mudou para a cidade de San Jose, no estado da Califórnia, em março de 2017, Donald Trump havia acabado de iniciar seu primeiro mandato como presidente dos Estados Unidos.
Quase oito anos depois de sua chegada na potência norte-americana, e com um Green Card ainda em validade, viu o republicano ser eleito novamente após, durante campanha eleitoral, fazer da deportação de imigrantes ilegais, sobretudo, criminosos, um elemento central.
Apesar de integrar o grupo classificado como “dentro de status”, ou seja, que está em situação regular de residência nos EUA, Mara relata uma apreensão vigente entre a comunidade imigrante do país com a qual tem contato.
Em entrevista ao Portal Fan F1, ela contou que o temor é de que a utilização de métodos para encurtar os processos de deportação ou mudanças na legislação afetem, inclusive, aqueles que nunca cometeram crimes, mas são imigrantes.
“Ninguém fala sobre isso aqui, até mesmo se você conhece a pessoa, é amiga da pessoa, você não fala sobre isso [status de residência]. É um tabu mesmo, é um medo generalizado, instalado, com certeza, mas também gera dúvida, ele prometeu isso também da outra vez”, explicou.
A sensação de incerteza, conta Mara, a estimulou a acelerar o processo de conquista da cidadania americana.
“Eu tenho uma creche bilíngue, que fala português e inglês, e tenho alguns clientes brasileiros. Eu acho que essas pessoas não se sentem confortáveis de Trump ter ganhado, gera uma incerteza no final. Eu, por exemplo, tenho um Green Card de 10 anos, eu já poderia ser cidadã, e estou correndo, fazendo meus papéis para mandar ainda esse ano antes dele assumir”, completou.
Mesmo diante do sentimento de desconforto, a sergipana ressalta a importância do país para sua vida.
“Eu estou numa posição favorável, mas que me deixa inquieta por tudo e por todos que estão ao meu redor. É um país que sem os imigrantes nem existiria, porque é o país das oportunidades, literalmente. Eu reconheço, e eu sou a prova disso, sou muito grata a esse país, que me dá muitas oportunidades de cultura, oportunidade financeira e oportunidades que eu não teria estando na mesma condição que eu tinha no Brasil”, disse ela.
Impactos e orientações
Publicado em julho deste ano, um levantamento do Pew Research Center aponta que dos 1,9 milhão de brasileiros que, como Mara, vivem nos EUA, 230 mil estavam vivendo ilegalmente no país em 2022.
Diante da apreensão de que um novo mandato de Trump traga consigo um tratamento ostensivo pelas autoridades e instabilidade para esse grupo, o advogado Paulo Victor Freire, especialista em Direito Internacional, ressalta que qualquer intenção do presidente eleito para com os imigrantes tem de passar pelo crivo dos outros Poderes.
“Não é uma ditadura, é uma democracia, tem uma Suprema Corte, tem um Congresso, tem um Ministério Público equivalente. Então, nós temos diversos órgãos em que um confere o poder do outro, e isso equilibrando [o sistema]. Desta vez, eu acredito que da mesma forma [que no mandato anterior] vão ter em situações tristes, mas eu acho difícil ter 20 milhões de deportados neste governo”, explicou.
Especialista em Direito Internacional, advogado ressalta impactos sociais e econômicos da promessa de Trump
Além disso, Paulo Victor ressalta que a promessa de Trump, se colocada em prática, terá um impacto significativo na economia do país no que tange à mão de obra e ao consumo.
“A grande maioria dos empregos que os imigrantes ilegais fazem, os americanos ou os imigrantes legais não estão dispostos a fazer, porque você tem que ter documentação para você pegar um cargo um pouco melhor. Você retirando essa força de trabalho, isso gera uma crise significativa, porque são empregos que você precisa para continuar desenvolvendo o país e desenvolvendo a economia, e também há um impacto no consumo”, afirmou.
O especialista defende que os brasileiros estarão seguros nos EUA se mantiverem o seu status de residência válido, seja de trabalho ou estudo. No caso dos imigrantes ilegais, a orientação geral é que busquem regularizar seu status, se isso for possível.
“O imigrante ilegal, querendo ou não, ele está na situação de ilegalidade no país, então o primeiro conselho é: se você tem condições de se regularizar, se regularize. Eu não falo em condições financeiras, mas condições de bater todos os critérios e os requisitos para virar cidadão ou virar residente permanente do país”, completou.
No caso dos imigrantes ilegais que eventualmente venham a ser convocados para iniciar o processo de deportação caso a promessa de Trump entre em vigor, ele orienta que o acompanhamento de um advogado seja solicitado.
“Como toda democracia, também é um Estado de Direito, então tem um procedimento. Do ponto da orientação genérica, porque cada caso é um caso, caso você não consiga se regularizar, caso você seja procurado para participar do processo de deportação, não fale sem um advogado do seu lado. Contrate um advogado, busque orientação, você tem o direito ao silêncio, você tem o direito a um advogado”, finalizou.