Na última sexta-feira, o Brasil foi abalado pelo trágico acidente aéreo em Vinhedo-SP, que vitimou 62 pessoas. Infelizmente, muitos dos corpos foram carbonizados, tornando a identificação das vítimas um desafio complexo e doloroso. Nesse contexto, a odontologia forense desempenha um papel essencial na identificação de corpos, utilizando a arcada dentária como uma ferramenta poderosa e precisa.

A odontologia forense é uma área especializada da odontologia que utiliza o conhecimento das estruturas dentárias para ajudar na identificação de indivíduos. Isso é particularmente relevante em situações onde o corpo sofreu danos severos, como em casos de acidentes aéreos, incêndios, desastres naturais e outras tragédias. O esmalte dentário, a substância mais dura do corpo humano, frequentemente sobrevive a condições extremas que destroem outros tecidos, tornando os dentes uma fonte valiosa de informação para a identificação.

No caso do acidente aéreo em Vinhedo (SP), onde muitos corpos foram carbonizados, a análise da arcada dentária é fundamental. Os dentes resistem ao calor intenso e à decomposição, preservando características únicas que podem ser comparadas com registros odontológicos pré-existentes, como radiografias, tomografias, modelos de estudo e escaneamentos digitais. Essas comparações permitem que os especialistas identifiquem com precisão as vítimas, proporcionando um pouco de conforto às famílias em meio ao luto.

Como a Odontologia Forense funciona

A identificação odontológica baseia-se na comparação entre os registros dentários do indivíduo em vida e as características dos dentes recuperados após a morte. Cada pessoa tem uma configuração dentária única, com diferenças sutis na forma, tamanho, alinhamento e presença de restaurações dentárias, como coroas, obturações e implantes. Além disso, as radiografias dentárias revelam detalhes específicos, como a densidade óssea e a estrutura interna dos dentes, que podem ser cruciais para a identificação.

Os peritos forenses também utilizam modelos de estudo e escaneamentos digitais, que oferecem uma representação tridimensional da arcada dentária. Esses modelos são particularmente úteis em situações onde o acesso a radiografias é limitado ou quando é necessário realizar comparações mais detalhadas. A precisão e a durabilidade dos registros dentários fazem da odontologia uma das ferramentas mais confiáveis em investigações forenses.

No recente acidente em Vinhedo-SP, a odontologia forense está desempenhando um papel vital na identificação das 62 vítimas, auxiliando as autoridades e trazendo um pouco de alívio às famílias afetadas. Esse triste evento destaca a importância da manutenção de registros odontológicos atualizados, tanto para fins médicos quanto para possíveis necessidades futuras.

Este trabalho, embora muitas vezes silencioso e desconhecido do público em geral, é essencial para dar respostas e fechar ciclos em momentos de dor e incerteza. Fica também demonstrada a importância dos cuidados com a saúde bucal, não apenas para manter um sorriso saudável, mas também para garantir que, em circunstâncias extremas, haja uma maneira segura e precisa de nos identificarmos. A ciência e a odontologia andam de mãos dadas, oferecendo um serviço vital que, em última análise, traz conforto e respostas àqueles que mais precisam.

Em tempo, me solidarizo com os familiares e amigos das vítimas.

Por Dr. Esdras Guimarães – formado desde 2005 pela UNIT (Universidade Tiradentes) e Especialista em Prótese Dentária pela Associação Brasileira de Odontologia.