Grãos de ouro sergipano: o milho e a sua potência econômica

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Entre as raízes secas e o cenário vil de uma colheita perdida, os passos de Elivânia Martins são o anúncio de uma esperança que nunca anda em falta no sertanejo. É o tipo de gente que cresceu aprendendo a lidar com as intempéries do semiárido. E por mais que uma safra perdida seja frustrante, ainda mais pulsante na veia, é a determinação desse povo de recomeçar.

É sob o calor nada cordial do povoado Lagoa dos Porcos, região do município de Carira, Agreste Central Sergipano e quase divisa com a Bahia, que se encontra a fazenda da Elivânia. A casa bem equipada – com direito a uma piscina sem uso e a uma rara e valorosa sombra de árvore – é a porta de entrada para um vasto quintal, onde está a maior riqueza da família: 130 mil m² de área para plantio. “É aqui que a gente vive, nessa rotina de dedicação de cuidar da roça e dos animais”, conta a matriarca.

E o cultivo na região não poderia ser diferente, afinal, o apelido de Capital do Milho, atribuído ao município de Carira, não é à toa. O milho, na região, é como pepitas de ouro: uma riqueza que enche o ‘bucho’ dos animais, o bolso de muitos produtores e potencializa o PIB sergipano.

Mas, nem sempre, as safras são fraternais! Em 2022, a colheita da Elivânia foi muito abaixo do esperado. Confira no vídeo:

Recomeço

A dimensão dos investimentos coincide com o crescimento exponencial da produção do milho em grãos em Sergipe, aparecendo entre os quatro maiores produtores do Nordeste nos últimos anos. Em 2022, por exemplo, o milho sergipano registrou safra recorde, com cerca de 890 mil toneladas colhidas, representando um aumento de 17,5% na produção em relação ao ano anterior.

O número poderia ser ainda maior, caso não fossem as chuvas irregulares na maior fronteira agrícola de Sergipe, que inclui os municípios de Carira, Simão Dias, Poço Verde e Frei Paulo, integrantes do Território do Sertão Ocidental, região que reúne 108,3 mil hectares de plantio do milho de sequeiro. Só em Carira, segundo dados da Emdagro, as chuvas provocaram perda de 30% da safra municipal

Sacolão cheio: fartura para o gado e para o bolso do produtor

No outro extremo de Carira, onde o sol parece ser mais latente, a fazenda do seu Salvador é o refúgio de quem não se interessa muito pela ‘vida da cidade’. Embora, ele mesmo confessa, tenha que ir quase que diariamente atender os pedidos da esposa.

“Tive até que comprar uma moto para poder ficar fazendo esse trajeto”, conta, aos risos. E a motocicleta nova é somente um dos frutos do que arrecadou com a safra do milho de 2021.

Em 2022, o aproveitamento da safra não foi 100%, mas lhe rendeu um sacolão (silo-bolsa) cheio do grão do milho, o qual ele tá estocando com diversos objetivos. Confira no vídeo:

Jornada promissora

Conforme a Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), a expansão do cultivo do grão já está presente em dezesseis municípios e ocupa mais de 90% das áreas de lavoura em todos eles, sendo Carira e Simão Dias os que apresentam maior produção e produtividade.

O secretário de Estado da Agricultura (Seagri), Zeca da Silva, analisa os motivos que têm proporcionado o crescimento da produção do milho em Sergipe e vê um cenário animador.

“O aumento na produção e produtividade do milho tem vários fatores, entre eles, a introdução das boas práticas cultivares, mecanização de alta tecnologia e insumos adequados, acesso ao crédito por bancos públicos, ampliando a oferta de crédito agrícola e abrindo agências especializadas e mais próximas do produtor. Além disso, os preços atrativos no mercado nacional e internacional e os incentivos fiscais do Governo de Sergipe, que desde 2019 reduziu a alíquota do ICMS de 12% para 2%, são também fatores significativos para a confirmação do milho como produto do agronegócio”, pontua.

Para coroar a evidência do grão, 2023 iniciou registrando as primeiras exportações em massa do commodity sergipano para abastecer o mercado sul-americano e o continente africano. Nos dois primeiros meses do ano, cerca de 60 mil toneladas foram embarcadas em dois navios, em operações realizadas pela VLI, companhia de soluções logísticas que opera ferrovias, portos e terminais, no Terminal Marítimo Inácio Barbosa (TMIB), no município de Barra dos Coqueiros.

Em março, há a expectativa de que outras operações de exportação do milho aconteçam, com Sergipe representando 50% da carga. Uma comercialização que impulsiona o PIB sergipano, em um cenário favorável e que reúne muitas mãos em uma mesma direção. Com o ouro sergipano, todos saem ganhando!

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